A lenda diz que Martinho partilhou as suas vestes num dia de frio ficando ele próprio desprotegido. E é nesse momento que o sol se mostra. E dá-lhe o calor necessário para prosseguir a sua viagem. São as coisas boas a acontecer a pessoas boas. E o bom tempo prolongou-por três dias. O chamado verão de São Martinho. 

Martim estava impaciente. Era dia de tradição na aldeia. Lá ao fundo um crepitar de castanhas assadas. Quase que se ouve o sal estalar. É hoje, é dia de São Martinho. Pega no assador. Agita-o com veemência. As castanhas estão quentes e boas. A mãe alerta-o: “Estão quentes. Olha que vais-te queimar”. Mas ele é uma criança, não se importa.

Todos os anos ajuda a mãe a assar as castanhas por esta altura. Fica a vê-la dar uns golpes a meio e juntar umas borrifadelas de sal. Não há altura do ano em que se compre tanto sal. Este condimento que nunca acaba em nenhuma casa. Em Novembro é preciso comprar mais.

Estas castanhas caseiras feitas na velha cloche não sabem ao mesmo das do assador de Lisboa. Nem estarão embrulhadas em jornal. Mas ele gosta mais destas. Tão amarelinhas que elas ficam. Descascam-se bem e não estão cruas.

Tem o cachecol ao pescoço. Afaga-o porque sente frio. Esquece-se que hoje é verão. O de São Martinho. As castanhas vão saber ainda melhor. Falta a água pé e a jeropiga para dar luz à tradição do magusto. Só um bocadinho a cada um.

Que se monte a mesa. Toalha vermelha. Que se chegue a gente. Cheira a castanha assada. É dia de São Martinho.

Dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho.