Quando eu era pequena (não em tamanho) tinha várias festas cada vez que fazia anos. Coisa de gente chique. Havia uma festa na escola, uma festa com os amigos mais próximos, a destruir toda a minha casa, e uma festa com a família. Este ano decidi juntar isto tudo. E o único sítio onde ia caber toda a gente e que ao mesmo tempo fazia a minha cara era a praia. No sábado criei o hastag: #30yearsbeachparty

Olhem a situação: Meia noite, a pessoa de meias no sofá a ver uma série, e por mero acaso, ainda de olhos abertos. À minha frente começo a ver uma fila de amigos que trazem bolo de ferrero rocher (importante!) e balões dos 30 na mão. Como assim? (Acho que lhes perguntei o que estavam ali a fazer.) Não os ouvi a entrar mas pelo que sei pediram silêncio aos vizinhos! Bem me enganaram e olhem que não é fácil. Tantas surpresas que fazemos uns aos outros durante o ano e mesmo assim lá me encontraram de óculos e despenteada, desprevenida em frente à televisão. Tive de controlar a lágrima do olho direito, confesso, mas fui mais teimosa que ela. #nãochora

Um pouco mais tarde chegam amigos vindos de Angola para estar comigo neste dia. Pois! Gente, até me assustei, dei um salto talvez, não sei bem, mas foi o melhor susto da minha vida. Como moram perto de mim, andaram a esconder-se para que não os visse a passear pelas ruas antes do dia e fizeram apostas sobre os nomes que eu lhes ia chamar. Ganharam, porque chamei alguns!

Pediram-me um discurso mas em 30 anos nunca me viram tão calada. Normalmente só me calo quando estou a correr, fora isso, as palavras saem como balas de metralhadoras. Saem até mesmo quando não devem. Naquela noite não saia nada.


No dia seguinte (uma ideia destas só podia sair desta cabeça tresloucada) houve piquenique na praia. Geleiras cheias de cervejas para os que têm mais sede. Comida que eu fiz no dia anterior. Rapazes a jogar à bola. Raparigas enroladas na toalha. Crianças a saltar na água. Os meus avós sentados em cadeiras debaixo do chapéu #likeachiques. A chuva a querer aparecer num início de verão manhoso. E ninguém arredou pé. Mergulharam na mesma.


À hora do jantar havia vista para o mar. Pediram-me outra vez um discurso e eu nada. Esta gente gosta mesmo é de me ver passar vergonhas. Inventei qualquer coisa à pressa sem muito sentido e disse-lhes que era bem mais fácil por escrito. (Para próxima levo uma cábula.) Vamos lá ver uma coisa. Não tenho muito jeito para ser noiva e para andar de mesa em mesa, estão a ver? Tenho medo de repartir atenções. Eu gosto de organizar festas mas depois não sei como lidar com as minhas. Eu gosto de organizar surpresas mas assusto-me quando me calha a mim. Saber que todos estavam ali por minha causa e não conseguir expressar isso é um bocado estranho. Uma pessoa chega aos trinta e é isto. Portanto vamos lá tentar outra vez:

Aos pais e irmã que sempre suportam toda a minha loucura e ainda entram nas brincadeiras que eu invento. Aos tios e primos que alinham sempre em tudo. Aos avós que estão sempre bem dispostos. Pois, então, com uma família assim como é que queriam que eu fosse normal? (Nem teria gracinha nenhuma.) São aos maiores. #moitapower

Aos padrinhos que não deixam de estar presentes nas alturas importantes. Aos compadres e afilhado que me fizeram correr na praia e esquecer a barriga a abanar. Aos amigos que estiveram desde a primeira hora da noite até ao final do outro dia. Aos que tiveram a preocupação e trabalheira de me surpreender. Aos amigos que vieram de muito longe para estar comigo e me fazer feliz. Aos outros amigos que estiveram a trabalhar, mas não se pouparam ao esforço de estar presentes para me abraçar. Agradeço também àqueles que nas redes sociais me foram parabenizando. Das pessoas que vejo todos os dias, às pessoas que não vejo há muito tempo. Das pessoas de sempre às pessoas recentes.

Ao namorado que andou a esconder tudo o que sabia (eu também não dificultei muito porque não perguntei nada, sou um anjo) e não só, ainda escondeu uma garrafa de champanhe dos bons em casa de outras pessoas que amavelmente não o beberam. Aos brindes que não há festa sem eles. É uma enorme responsabilidade ter-vos na minha vida.

Obrigada.

img_0416.jpg

Por fim devo dizer-vos que no dia seguinte quando acordei fui às lojas à procura do “meu primeiro creme anti-idade”. Mas olhem… não comprei

img_0382.jpg