Saí do sofá. Primeiro passo! O mais difícil, na verdade. Depois, vesti uma roupa fria. Sai de casa. E pensei… “vai chover”.

Quando a Patrícia me desafiou para nos juntarmos a um grupo de corrida eu pensei que isto podia muito bem ser a minha primeira resolução do ano. Não querias coisas novas? Então vai para a rua correr ao frio e à chuva que mais novo do que isto, para quem passava os dias no sofá, não pode haver.

Eu odeio correr. Sempre odiei. Já tinha tentado há uns anos atrás mas depois de um minuto e meio estava estendida no chão a arfar. Desta vez tive alguns dias para marinar a ideia. E se lhe disse que sim não ia agora andar para trás. Tinha aquele #anjinho a dizer que era magnífico experimentar uma coisa e aquele #diabinho a gozar com as minhas invenções que claramente não iam dar em nada.

Fomos com grupo Correr Lisboa. Estavam imensas pessoas. Depois do horário de trabalho. Era de noite, estava a chuviscar e as pessoas estavam ali. A mim apetecia-me estar a comer bolachas em frente à televisão, mas hoje estava ali, no meio daqueles malucos que iam correr. Sim, “os que correm” não passam de malucos. (Eu disse “os que correm”? Sim, acho que eles são uma entidade) Juntei-me ao grupo dos iniciados que iam correr seis quilómetros em quarenta e cinco minutos. Seis quilómetros. Quarenta e cinco minutos. Acho que me ri.

E então naquele momento achei que não devia estar ali. Tinha sido um erro. Claramente nem aqui nem na China eu ia correr aquilo tudo. Depois pensei naquela história das coisas novas. E depois, finalizei: “Tudo bem, vou a andar, corro um minuto, mantenho a pose e quando todos forem muito mais à frente do que eu, escondo-me e volto para o carro. Simples assim.”

Fui. E percebi que eles correm mesmo. Correm o caminho todo. Nunca andam, nunca param.Têm um objectivo. E cumprem-no. Fui e fiz os malditos seis quilómetros nos mais demorados quarenta e cinco minutos da minha vida. Talvez um pouco mais. Cinquenta? No percurso a minha cabeça não parou de trabalhar tanto quanto as pernas. Pensei em atirar-me para o chão. Pensei em ser atropelada. Pensei que se parasse era pior, que as pernas já só conseguiam manter aquele ritmo e se o alterasse e desistisse, começando a andar, a dor ia ser superior. Tentei andar e foi mesmo. E mantive a corrida. Lenta. As pessoas iam a correr à minha frente e não paravam. Eu estava prestes a cair desmaiada e elas não paravam. E eu não parei. Corri, devagar, cada vez mais devagar mas não parei. Era de noite e eu estava a correr no meio da cidade. Ninguém ia acreditar, mas eu estava a conseguir. Parecia louca. Eu era parte daqueles malucos “dos que correm”. A loucura começava a fazer-me feliz. Respirava pela boca, pelo nariz, pelos ouvidos, por onde conseguisse. As pessoas passavam por mim e diziam que só faltava um bocadinho. Era mentira, faltava sempre imenso. E acabei. Passaram três eternidades, mas acabei. E percebi.

Percebi a febre da corrida. Percebi o que faz as pessoas se levantarem cedo para…correr. Percebi o que faz as pessoas irem, ao frio, depois do trabalho, cansadas…correr. O que faz as pessoas irem correr é o fim. O melhor da corrida é quando ela termina. Está tudo na sensação que se tem quando a corrida acaba. “Consegui”.