Há vários tipos de dor quando se corre. Uma das coisas que eu devia ter aprendido era a saber distingui-las.

Nas primeiras corridas loucas que fiz doía-me exatamente tudo.Era o tipo de dor que se tem quando se faz exercício. Aquela dor dilacerante nos músculos. Aquele desejo profundo de manter as pernas esticadas no sofá em cima de cinco almofadas e ainda assim sentir vinte pedras em cima de tão pesadas que estão. É dor de quem sofre, é a dor de quem pensa que nunca mais volta a correr ou a ir ao ginásio. Além disso, toda e qualquer tarefa básica diária como agachar-me para atar os sapatos ou levantar um pacote de arroz fica extremamente difícil de concluir. Chamo-lhe, portanto, a dor de quem não consegue mexer o iogurte.  Mas ao fim de dois ou três dias a dor passa e está na altura de repetir tudo outra vez numa atitude francamente estúpida de quem sabe que vai voltar a sofrer horrores.

Depois há outro tipo de dor.

Chama-se lesão. Aquela que não te deixa chegar sequer a ter a ideia de ir fazer exercício. A meio de uma das corridas senti uma dor no joelho que nunca tinha sentido antes. Continuei a correr porque pensei que era a ‘nova dor de burro’. Não passou e só aliviou no alongamento. Continuou no dia seguinte mas ignorei-a e confundi-a com a típica dor muscular. Passado uns estava impecável e voltei a correr. E a dor voltou. E partir daí nunca mais passou. Sempre que corria, a dor aparecia.

Após deixar passar o tempo necessário para a teimosia cedi e fui ao médico. Uma inflamação. Uns comprimidos. Ah, e não correr. Ups.