correr

Quando comecei com esta ideia, descabida, de correr era pleno Inverno. A chuva não foi impedimento em nenhum dia (mentira, claro que foi). Houve inclusivamente dias de frio em que praticamente levei comigo uma manta para a rua. Nessa altura queria muito que fosse verão para ir desfilar em calções em coisas chamadas corridas.

Sonhei com esse dia naquelas alturas em que, praticamente de gatas, me arrastava do sofá até à rua, carregando camisolas polares e corta-ventos. Sonhei com o calor de todas as vezes que fiz o aquecimento a bater o dente. Sonhei com as noites quentes todas as vezes que assoei o nariz no final de cada corrida.

O verão chegou. Alegria de toda uma vida! Já podia ir correr com calções magníficos. Já podia ostentar tops lindos e coloridos. Esquecer os casacos e claro bronzear-me enquanto passeio e vou fingindo que corro imenso. Sim, eu sempre achei que a parte melhor da corrida era bronzear-me. Isto era o que eu pensava que ia acontecer. Mas não. Não! Nada disto! Não fiz nada disto. É totalmente impossível correr com calor.

Não dá. Tenho falta de ar, falta de água, (falta do sofá e da ventoinha) falta de tudo. O suor escorre-me sem que eu saiba bem se é o suor do exercício (eu não transpiro, por favor, sou uma menina!) ou o suor dos quarenta graus à sombra. Eu quero que esteja calor, quero, juro que quero, mas é para estar deitada numa toalha. E rebolar até ao mar transformando-me num croquete humano (bela visão) sempre que quiser, não é para isto!

Corri muito menos vezes no Verão do que corri no Inverno. E isto é dramático. É dramático porque o verão está a acabar e eu sou toda Verão. Eu respiro verão, eu adoro praia e calor. É dramático porque o calor vai abrandar e eu vou ter que ir correr mais vezes.