Eu vi. Ninguém me contou. Se não visse não ia acreditar. Bem, agora que me lembro melhor, talvez possa ter sido um sonho ou um delírio febril da minha pessoa. Sim, pode ter sido isso.

Bem sei que o mundo agora anda assim tipo à maluca. Que as coisas se vivem muito rápido e tal. Tudo com muito andamento. Sempre toda a gente cheia de pressa numa loucura desenfreada. Pessoas de um lado para o outro a atropelarem-se no centro comercial carregadas de sacos. Carros e mais carros na estrada, tudo ao molho e a estacionar em segunda fila. Vivemos assim!

Tudo acontece a uma velocidade tal que nem damos por isso. Não temos tempo. É isso que se ouve a toda hora. Não temos tempo para reparar em nada. Estamos ocupados. O tempo parece que queima mais rápido do que lenha na lareira. E esta rapidez, às vezes, é assustadora. E não é só quando estamos de férias que os dias passam a correr. As crianças também  ficam com as calças pelo joelho num instante.

Mas ontem as coisas pioraram. Senti que entrei num acelerador de tempo. Como se fosse uma máquina mesmo. Sim, os meses passam e daqui a bocado já é natal. Mas, bolas, o tempo passa rápido demais por si próprio não precisa da nossa mão para lhe dar uma ajudinha.

Ontem entrei numa loja e havia coisas de natal.

Eram coisas de natal, tenho a certeza. Eram bolinhas, estrelinhas e luzinhas (no natal as coisas são todas “inhas”). Pouca coisa, numa prateleira lá ao fundo, mas com uma clara atitude de quem vai saltar não tarda e invadir as secções todas da loja e a nossa vida também. Eu gosto do natal mas ainda uso manga curta.

Tudo bem que começou a chover. E está frio. Ok, a malta aguenta. Temos que ser fortes. Mas é Outubro! Pessoas, estamos em Outubro. Não vamos já desenterrar a árvore arrumada nos confins da arrecadação, nem os castiçais das velas vermelho-natal presos no esferovite. Eles estão bem. Vamos respirar.