Toda a gente tem uma gaveta que não serve para nada. Eu por acaso até tenho várias. São gavetas que albergam tralhas. Simplesmente é isso. Essas gavetas existem para eu lá colocar aquelas coisas que não sei onde pôr, mas não quero deitar para o lixo… hoje. Porque no dia em que arrumar a gaveta, vai tudo lá parar…ao lixo.

As gavetas são como lojas dos chineses. Está lá tudo. Tudo aquilo que não sei onde está, está lá. As gavetas são mais ou menos como um buraco sem fundo. Vai sempre caber mais qualquer coisa. O meu cérebro pensa “onde é que vou arrumar isto? Olha meto aqui nesta gaveta e já se vê.” Nunca mais vou ver coisa nenhuma. Se a gaveta fechou tá bom, tá arrumado, tá resolvido.

Há pouco tempo descobri um saco com moedas de um cêntimo. Não brinquem, estavam lá mais de dois euros! Encontrei revistas, folhas de rascunho, canetas. Encontrei uns brincos e um anel que não sabia onde estavam há alguns meses. Encontrei aquele rolo para tirar os borbotos das camisolas. Mais um bocado e tinha encontrado petróleo.

Experimentei abrir uma gaveta do móvel da entrada, assim de modo aleatório. Encontrei envelopes, postais, recibos, capas de telemóveis, baralhos de cartas, bolas das raquetes da praia, fita cola, lâmpadas, cartões, sacos, porta-chaves. Na gaveta da mesa da sala encontrei bases para copos e fósforos. Depois vi outra com cds velhos, álbuns de fotografia e coisas dos tempos dos dinossauros. Tenho noção que há para ali uma gaveta que só contém cabos e coisas que eu não sei o nome. É o que dá viver com um nerd.

Onde é que está não sei o quê? Está para aí nessa gaveta. É sempre assim. Ah, quem nunca sentiu a emoção de se livrar de montes de porcarias e ver uma gaveta arrumada ou vazia mesmo. Eu já, e senti essa imensa alegria porque no fundo, uma gaveta livre é sinónimo de mais espaço para meter mais porcaria.