O mar era tão fundo. Não acabava nunca mais. Era tão claro aqui ao pé dos meus pés. Transparente à minha frente. Limpo e incrível. Mais azul ali à frente. Quase impossível. A água não tem cor, não é azul. Muito menos é verde. Como parece. Eu vi. Tenho a certeza.

Só não compreendo como. Mas não interessa. Não questiono as coisas bonitas. O mar era muito escuro lá ao fundo. Lá onde não acaba. Onde não lhe vemos o fim. Quase preto.

Ver o mar é tão tranquilo. Mas também pode ser tão perturbador. Às vezes o mar é tão bom, tão claro. E outras vezes tão catastrófico, tão escuro. O mar é como a gente. Dono do melhor e do pior.

Quando era pequena li “A menina do mar”. Também escrevi algumas histórias sobre o mar. Inventei um tubarão mau. Já não me lembro do nome. Também brincava de pequena sereia fingindo nadar no sofá. O mar é só histórias. O mar é imaginação, é inspiração. O mar é livre e faz o que quer. É independente. Às vezes macio e brilhante outras vezes revolto e perturbado. Não há coisa mais acertada do que dizer que o mar é de luas. Como a gente.

O mar não desaparece. De todos os sítios de onde já vi o mar nunca lhe descobri o fim. Até o arco-íris nós sabemos que acaba no pote de ouro. Do mar não sabemos o fim. Do mar não sabemos nada. Talvez por isso seja tão fascinante e atraente. O segredo mantém-no só dele. O mar é só do mar. Ainda que possa ser um bocadinho meu também.