não sou corredora

Sabem aquelas pessoas que lançam um livro mas depois dizem que não são escritores? E aquelas pessoas que entram numa novela mas dizem que não são actores? Eu vou fazer corridas mas não sou corredora.

Eu não sou corredora porque isso seria injusto para quem treina afincadamente. Para quem vai correr dia sim, dia não. Seria uma ofensa para quem vai todos os dias. Para quem sente necessidade de ir. Para quem precisa da corrida. Para quem é feliz a correr. Reconheço-lhe mérito, aos corredores.

Eu corro sempre em sofrimento. Eu não planeio a minha vida em função da corrida. Eu não vou correr sequer todas as semanas quanto mais todos os dias. Eu vou de vez em quando. E é porque alguém vai comigo e insiste, raramente vou por vontade própria. Aliás, conto pelos dedos das mãos as vezes que fui porque me apetecia mesmo muito. Não vou por necessidade daquilo, não fico indisposta se não for. Há dias até que digo que não quero ir, que não me apetece. E há outros dias em que penso “vou correr para quê?”

Este ano comecei a correr. Por brincadeira. Achei mesmo que ia ser só naquele dia. Não foi. Voltei a ir mais vezes com amigos e sozinha. Ganhei algum gosto (pouco) em ir correr para sítios diferentes, enfrentar vários percursos.

O que tenho aprendido a correr?

Pelo meio tive uma lesão no joelho e pensei que a corrida de facto não fazia sentido para mim. No fundo sempre o soube. Mas custava-me desistir de uma coisa, que eu nunca quis fazer, mas que estava a resultar, que eu estava a conseguir. Sou pessimista por natureza e demorei a voltar a correr. Custou-me mais recomeçar do que começar. Porque tinha perdido todo o trabalho para trás e porque já sabia o que custava correr, já não era uma surpresa. Mas não desisti. Insisti. E isso foi uma coisa que aprendi este ano, a não desistir de mim e a insistir em mim.

Outra coisa que aprendi foi isso da febre da corrida. Porque a cada corrida a que voltava percebia porque é que aqueles malucos lá andam. Porque dá um prazer enorme terminar uma coisa a que me propus. Conseguir, sabem? Há uma sensação espectacular em chegar ao fim, enquanto estive o percurso inteiro a sofrer, e a pensar que não era capaz. Eu acho sempre que não conseguir. E a superação é incrível. Chegar ao fim é cá um alívio!

Provas de corrida

Fui a algumas provas e o ambiente surpreendeu-me de forma muito agradável. Prefiro mil vezes ir a provas do que correr por correr, nos dias normais. Mas eu não treino para tempos. Aliás houve mesmo provas para as quais nem sequer treinei. Houve provas que fui fazer sem correr nas semanas anteriores. Eu não corro por competição. Vou porque vou. Lá está, se não conseguir paciência. Mas depois o meu espírito lá muda. E acabo por conseguir. Mais tempo ou menos tempo não me interessa.

Comecei a correr em Janeiro e fiz seis quilómetros nesse dia. No seguinte estava pronta a ficar de pernas esticadas na cama. Qualquer movimentação era dolorosa. A primeira prova foi a corrida Vitalis, de 7 quilómetros, em Março. Parei de Maio a Julho pela lesão e mudei-me para as caminhadas. E em Novembro fiz os primeiros 10 quilómetros. E em Dezembro encerrei as provas do ano com o Prémio de natal edp e com a grande vitória de não ter sentido dores no dia seguinte.

Eu não sou corredora. Porque há dias em que não quero correr. Não tenho pressões e a única coisa que quero em relação à corrida é não chegar depois dos senhores arrumarem os pilares da meta. Em 2017 acho que vou continuar a correr. Acho! Mas é só nos dias em que me apetecer. E à velocidade que eu quiser. Não prometo nada. Se não ainda me torno um bocadinho corredora!