Vale a pena continuar a falar do dia internacional da mulher? Faz sentido continuar a existir um dia internacional da mulher? Neste século? Sim, talvez valha a pena. Sim, talvez faça sentido. Sim, definitivamente, sim. 

Enquanto tivermos presente na nossa memória a história das mulheres, a sua luta pelo progresso, emancipação e independência, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Enquanto continuarmos a ouvir declarações, como estas bem recentes, de um deputado polaco, sobre as mulheres serem “mais fracas que os homens” e por isso merecerem ganhar menos, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Enquanto as mulheres forem prejudicadas nos empregos, sendo impedidas de desempenhar cargos maiores ou enquanto for mal visto, pela sociedade, uma mulher ganhar mais do que um homem no seio do casal, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Enquanto houver quem pense que o lugar da mulher é na cozinha e fique estupefacto quando um homem passa a ferro ou enquanto houver violência doméstica que faça do homem o dono da mulher, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Enquanto não houver o reconhecimento de uma mulher que sozinha trata da casa ou dos filhos tal como há esse mesmo reconhecimento quando se trata de um homem nesse lugar, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Enquanto houver mulheres que destroem outras mulheres pelo simples prazer de não as ver vencer, de não as ver crescer, sim porque (nós sabemos) as mulheres são piores colegas e piores amigas do que os homens entre si, então sim, talvez este dia continue a valer a pena. Talvez este dia continue a fazer sentido.

Não há tarefas de homens e mulheres. Não há profissões de homens e mulheres. Não, hoje já não há. Nem aceito que haja. Não há valores, nem direitos e deveres de homens e mulheres. Já nem o amor é só entre homens e mulheres. É de todos. Livremente e igualmente. Eu sou mulher, mas não sou feminista, e preferia que este dia não tivesse de existir ou preferia que fosse só um marco da história, uma efeméride como tantas outras, porque isso significava que não era preciso falar de tudo isto.

Eu preferia estar aqui hoje só a falar do facto de ter visto uma mulher cujas habilidades lhe permitiam conduzir e maquilhar-se no sinal vermelho. Preferia dizer que ser mulher também é gostar de ver a bola e jogar PlayStation. Preferia dizer que ser mulher é não ter nada para vestir! É ter a capacidade de rir e chorar ao mesmo tempo. É ser organizada e conseguir sair do trabalho, ir ao ginásio, fazer compras e preparar um jantar saudável e marmita para amanhã. Eu preferia vir aqui dizer que ser mulher é, depois disto tudo, ainda conseguir deixar a cozinha imaculada e escrever um texto para o blog e desmaquilhar antes de dormir. Preferia vir aqui dizer que além disso tudo estamos sempre impecáveis!