O Hygge é uma forma de estar. É viver em harmonia, em convívio e em igualdade. É prestar atenção, é encontrar pequenos prazeres em pequenas coisas. É agradecer, é fazer as pazes e promover as tréguas com o mundo. E é a sensação de aconchego, de refúgio, de conforto, segurança e bem estar. O hygge é ser mais feliz.

Eu já disse várias vezes, aqui no blog, que não sou uma pessoa que ligue aos estados zen, à meditação, ao reiki, aos yogas, às energias e não acredito em livros de auto-ajuda. Mas preciso de acreditar em coisas positivas e naquilo que isso pode fazer por nós. Ou seja, preciso de acreditar que ver as coisas pelo lado positivo nos trás energias positivas e por consequência dias mais felizes.

O livro “Hygge – o segredo dinamarquês para ser feliz” não é sobre alinhar os chakras nem sobre fechar os olhos e imaginar uma praia deserta. Nada disso! O Hygge não tem tradução. É como a nossa palavra “saudade”. Muitas pessoas o tentam definir ou nomear. Eu acho que o hygge passa por cada um encontrar o que ele quer dizer para si. Para mim é passar a valorizar coisas que faço todos os dias e que me costumam passar ao lado. É sentir-me feliz em momentos pequenos e simples.

“As coisas pequenas são sempre mais hygge dos que as grandes”

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Porque é que os dinamarqueses são considerados o povo mais feliz? Porque seguem o hygge. Porque isso está na vida deles, no ambiente, na rua, nas roupas ou nas estações do ano. É um sentimento.

Relativamente ao livro ele é bonito esteticamente. É atractivo ao olhar o que é logo um ponto a favor. Tem imagens muito inspiradoras lá dentro e que têm tudo a ver com o conceito sobre o qual fala. Depois, está escrito da forma mais simples possível, como se alguém estivesse a falar connosco. A linguagem é corrente, algo cómica, por vezes, e muito actual. O autor é o presidente do Happiness Research Institute.

“Podemos saborear, ouvir, cheirar, tocar e ver o hygge. Mais importante ainda, podemos sentir o hygge”

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Eu, uma céptica e uma aprendiz nisto de ser optimista, vou tentar explicar porque fiquei tão fascinada (já fui inclusivamente ver viagens para conhecer a Dinamarca). Surpreendi-me ao ler o quão importante podem ser coisas que eu já faço. Se eu quiser, estas coisas, habituais, podem ser felizes.

A luz

O hygge exige muita luz. Os dinamarqueses passam uma boa parte do ano com dias escuros e por isso apreciam casas muito iluminadas. Mas o hygge mais instantâneo que pode existir é a sensação de ter velas acesas. Na Dinamarca toda a gente acende velas em casa. Várias velas. Imaginem: velas, uma manta no sofá, um livro e um copo de chá. Percebem a sensação?

O convívio

O autor descreve que estar com pessoas que nos fazem bem é bastante mais importante no contributo para a nossa felicidade do que estar de olhos postos nas redes sociais. Faz sentido.

Comida e bebida

Os bolos e o chocolate quente são a coisa mais hygge que existe. Se juntarmos isto aos pontos anteriores começamos a conjugar as coisas e a criar atmosferas com o hygge no máximo. As pessoas juntam-se numa casa iluminada e quente, cada um leva um ingrediente e juntos cozinham. E é tanto mais hygge quanto mais tempo demorar. “O hygge é rústico e é lento”.

A roupa

Estilo descontraído e casual. Cabelo atado. Roupa preta. Camadas de roupa de lã e um casaquinho para rematar. Ah, o mais importante, levar sempre um cachecol ou um lenço. A ideia de aconchego e conforto volta a aparecer aqui.

A casa

Lareira. Flores. Livros. Mantas e almofadas. Meias de lã. Velas. Objectos de madeira ou cerâmica. Peças vintage. Fotografias. Música. Filmes. Papel e caneta. Chá. Chocolates. Quem não tem isto em casa? E quem já prestou atenção a quanta felicidade isto nos pode oferecer? Para os dinamarqueses existe sempre aquele cantinho da casa onde se sentem seguros e confortáveis. O seu porto de abrigo por assim dizer.

Meses do ano

Em cada mês há uma peça chave que pode transmitir o hygge. Em Fevereiro uma viagem à neve. Em Abril, uma caminhada. Em Julho um piquenique de verão. Em Agosto um mergulho de água salgada. Em Novembro umas castanhas assadas. Em Dezembro o natal. Todas as estações do ano são propícias ao Hygge.

Hygge é grátis

Jogos de tabuleiro, noites de televisão, jantar de amigos em casa, andar de trenó, brincar…

 Dinamarca

A arquitectura dos prédios. Os passeios de barco. Andar de bicicleta e sentir a cidade. Entrar numa pastelaria. Conhecer uma livraria.

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Isto do hygge é mais fácil do que eu pensava. Na verdade não é preciso fazer nada. Nem nos obriga a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa. É só fazer aquilo que já fazemos todos os dias mas gostar disso. Sentir isso. No início do livro o autor conta um episódio: Estava ele com os amigos, num bangaló, num dia frio de Dezembro. Depois de uma tarde a passear, já cansados, entram, acendem a lareira, vestem uma camisola e meias de lã, preparam o jantar. E assim, no conforto da casa, de coração sossegado, acompanhados uns pelos outros, no refúgio e em segurança, como é que tudo poderia ser ainda mais hygge? Se chovesse lá fora.

 Winnie the Pooh diz que o amor não é para soletrar, é para sentir. O Hygge também é. (E eu adoro Winnie the Pooh.)

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