Cá por casa os hábitos foram-se criando. Há rotinas que nasceram e foram-se estabelecendo e definindo, sem querer, com o passar dos dias. E há coisas que foram ficando sempre assim. A roupa é um destes casos.

O processo de tratar da roupa não é complicado mas tem várias etapas que dão trabalho. Primeiro reparamos que a tulha da roupa suja está a transbordar, mesmo já a deixar cair peças. Selecionamos a roupa e metemos a lavar, sempre no mesmo programa. Lá está, é um hábito. Lavamos neste programa porque resulta e evitamos, assim, mexer noutros botões. Depois temos que apanhar a roupa que está estendida e já seca, dobrá-la, passá-la e arrumá-la. E isto tudo é um processo que demora o tempo de a tulha ficar novamente cheia. É uma canseira. Ninguém me avisou sobre isto!

No início o problema era perceber que tipo de roupa podíamos juntar numa lavagem. Hoje o problema é outro. O programa da máquina que usamos demora três horas. No outro dia cheguei a casa, ao final da tarde, e, qual dona de casa dedicada, meti roupa a lavar antes de me esticar no sofá. Só perto da meia noite, já de pijama e prestes abrir a cama para me deitar é que me lembrei da roupa, dentro da máquina, à espera que alguém a estendesse. Ora isto é uma daquelas coisas que se foi instaurando com o tempo. Acontece com bastante frequência metermos roupa a lavar e nunca mais nos lembrarmos dela. Ali fica dentro da máquina até alguém exclamar de repente, com ar de pânico, perante o outro: “a roupaaa”.

Fiz a melhor cara de anjo que consegui, ergui toda a minha sobrancelha e baixei o olhar como o gato das botas:

– Amor, aconteceu uma coisa terrível.

Ele ficou visivelmente abalado. Preocupado diria eu. Meteu o jogo da PlayStation em pausa e pousou o comando. Olhou para mim e perguntou-me de semblante carregado: “o que foi?”. E então eu declarei:

– Sabes, é que, pronto…esqueci-me de estender a roupa que meti a lavar…

Resposta:

– Ah, odeio a minha vida.