Não me licenciei agora. Mas isso não quer dizer que não me questione “e agora?” de vez em quando. Li o livro da Catarina Alves de Sousa de um só lanço, e já com trinta anos, depois de me ter licenciado há dez. Faz sempre sentido. Porque estamos sempre a tempo de nos questionarmos. E de perceber  se o caminho que estamos a seguir está certo para nós e para a nossa felicidade.

A Catarina escreveu este livro quando se deparou com o facto de não haver nada parecido em Portugal. Este é o livro que ela gostaria de ter lido quando terminou a sua licenciatura. Vejo este livro como um manual de truques e dicas. E vai desde a parte mais emocional à parte mais prática. Com uma linguagem informal, disposta a chegar de forma fácil, simples e intima conta-nos alguns episódios da sua fase de procura de emprego e dá-nos alguns exemplos vivos de outras pessoas.

Sem desvendar mas aguçando a vossa curiosidade, podemos encontrar alguns conselhos. Por exemplo, não devemos querer trabalhar no nosso emprego de sonho logo a seguir à universidade. Em muitos poucos casos isso vai acontecer. A Catarina diz que ao fazermos outras coisas pelo caminho, e antes de conseguir o trabalho da nossa vida, vamos descobrir imensas coisas de que também gostamos e em que também somos bons. Ora, isto despertou-me a atenção, porque isto está a acontecer comigo.

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Depois encontramos toda a parte prática como conselhos para uma candidatura a um emprego, de como fazer um CV e de como nos apresentarmos a uma entrevista. Mas mais, a Catarina dá-nos links de páginas onde podemos aprender mais sobre determinado assunto e links diretos para os motores da internet que se dedicam a agregar ofertas de emprego.

Na minha opinião os jovens têm que escolher o curso, que os vai acompanhar para o resto da vida, demasiado cedo. No meu caso eu sabia o caminho a seguir. Desde os 12 anos que queria ser jornalista. Mas conheci muita gente, na altura, que não sabia. E conheço hoje em dia pessoas em idade de entrar na universidade que não sabem que profissão seguir. Lembro-me de ouvir na minha altura, e hoje ainda ouço, pessoas a irem para áreas claramente para fugir a outras como é o caso da matemática, por exemplo. Comecei a minha conversa com a Catarina precisamente por esta temática.

Concordas que esta escolha é feita demasiado cedo (em termos de idade) e que isso pode influenciar/condicionar a escolha que fazem?

Sabes, durante anos acreditei veementemente que sim. Hoje em dia, já não concordo tanto. Sejam quais forem as escolhas em causa, aprendemos desde cedo a fazê-las e temos que estar mentalizados de que a nossa vida será sempre feita de escolhas difíceis. Porém, se tivermos atenção aos sinais, vamos facilmente descobrir que temos mais aptidão para uma área em detrimento de outra. Ainda no outro dia estava a pensar nisto: até mesmo na primária já era facílimo ver que área é que eu e os meus colegas iriamos seguir, não a profissão em si, mas a área. Hoje em dia todos aqueles de que me lembro da primária trabalham nas áreas que associava a eles (ciências, artes e letras, no meu caso).

Por isso, escolher um agrupamento aos 15 anos não me parece dramático. É mais difícil sim, aos 18 anos escolher um curso específico quando ainda não sabemos o que queremos fazer na vida. Mas as escolhas têm que ser feitas, não têm é que ser finais. Ou seja, eu quero que saibam que independente das escolhas que façam, se se arrependerem delas mais tarde, não tem mal nenhum em querer mudar e certamente nunca será demasiado tarde para o fazerem! Isto não é pensamento positivo, é a mais pura das verdades dentro do senso comum, claro.

Achas que estes mesmos jovens não estão preparados para assumir responsabilidades profissionais quando saem de uma licenciatura com 20/21anos?

Na maioria dos casos não, mas depende muito dos cursos. Há cursos cujas saídas são muito bem definidas e cujo percurso obriga mesmo à realização de vários estágios, como é o caso de um curso de Enfermagem, por exemplo. Outros cursos, como muitos dos de letras, que é a realidade que conheço mais de perto, deixam-nos a sentir meios perdidos, sem experiência profissional e com apenas um estágio realizado no final da licenciatura. O problema é que os cursos de letras têm tantas saídas profissionais possíveis (teoricamente), que não sentimos que saímos da faculdade com experiência e conhecimento suficientes em nenhuma delas. Foi por isso que achei que seria mais seguro tirar um mestrado em Jornalismo (algo mais específico) a seguir à minha licenciatura em Estudos de Cultura e de Comunicação.

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Mas quem são estes jovens que hoje entram e saem da universidade? Quem são os novos trabalhadores e quais são as diferenças entre nós, os millenialls e a nova geração Z? Noto claramente que já não queremos as mesmas coisas e nem as empresas querem manter os mesmos formatos de há uns anos. Noto que há uma maior tendência para a tecnologia, por exemplo, fruto do desenvolvimento a que temos vindo a assistir e isso de certo modo influenciará os novos licenciados e distingui-los-a das pessoas de 30 anos, como nós. Mas isto digo eu. Deixa ver o que diz a Catarina.

Quais são as diferenças que encontras na geração que se licenciou há 10 anos (como nós) e em jovens que se estão a licenciar hoje?

Posso estar errada, mas creio que os recém-licenciados de agora são mais tenazes e não se contentam com o que encontram à primeira. Parece-me que têm mais facilidade em reconhecer situações que os deixaria em desvantagem no mercado de trabalho do que nós, certamente do que eu na altura. A nossa geração começou a ser muito vocal no que diz respeito à exposição de casos de exploração e aproveitamento laboral e acho que os recém-licenciados actuais já reconhecem muito facilmente essas situações, sem terem necessariamente que passar por elas. Para além disso, parecem-me mais dispostos a mudar de emprego/área se virem que não há nada que os encante, nós éramos muito do “make it work”, não? Sendo verdade, acho que adquiriram uma excelente arma contra a insatisfação no trabalho.

O que sentes que estes jovens, que te vão ler, procuram no mercado de trabalho? Querem ser o quê quando forem grandes?

Acima de tudo querem ser felizes, sentir-se realizados e ter um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Não se querem matar a trabalhar nem viver para trabalhar e querem sentir gosto pelo trabalho. No fundo, não sei se aquilo que eles procuram é assim tão diferente daquilo que nós procurávamos quando nos licenciámos. Eu acho que não. O meio envolvente e os recursos que lhes estão disponíveis é que são outros. A única diferença de que me lembro, assim de repente, para além de uma melhoria na economia nacional, é que hoje em dia se fala muito mais – de forma aberta – sobre construirmos o nosso próprio caminho se não houver nenhum óbvio ou que nos atraia no mercado de trabalho. Quando eu me licenciei, por exemplo, não se falava muito de empreendedorismo como algo acessível e concretizável, como hoje em dia.

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Mas haverá hoje em dia empregos para a vida? Fará sentido termos um único emprego? Sabermos só de uma coisa. Em termos de currículo, por exemplo, é benéfico ou prejudicial termos passado por várias empresas? Não devemos procurar aquilo que nos satisfaz, independentemente da nossa formação ou idade? Uma das coisas que me tocou no livro da Catarina foi o facto de ela dizer que não há mal nenhum em mudar de ideias. Graças a deus! Que não temos de gostar sempre das mesmas coisas, que podemos descobrir ao longo dos tempos coisas novas que atraem a nossa atenção, que nos motivam.

O que achas que faz as pessoas ficarem presas a um emprego de que não gostam? Factores emocionais de resistência à mudança? Ou mais factores financeiros ou de idade, por exemplo? Há hoje muita gente insatisfeita, não há? Por que não agem essas pessoas? O que as limita? E como podem ultrapassar isso?

Daquilo que observo sim, há muita gente insatisfeita, mas tento sempre relativizar um pouco quando me confessam insatisfação, porque também sei que o ser humano é insatisfeito por natureza e que há dias melhores e outros piores. Quando o caso é sério e a insatisfação é constante nem toda a gente age prontamente rumo à mudança. A mudança, ainda que bem-vinda nesses casos, pode realmente ser assustadora. As pessoas têm receios financeiros, claro (“será que vou ganhar menos do que o que estou a ganhar agora?”), mas também emocionais, porque a verdade é que acabam por se apegar aos chefes ou aos colegas de trabalho e os laços emocionais são, muitas vezes, mais fortes do que quaisquer outros. E depois surge muito a questão “despeço-me já ou espero até encontrar outro trabalho?” É óbvio que a solução mais segura é procurar trabalho enquanto ainda empregado, mas também reconheço que é fácil desmotivar e desistir quando as respostas tardam ou não chegam…

A única forma que vejo para ultrapassar isto é a persistência. Mais nada. Insiste, não desiste.
Agora, também acontece as pessoas estarem desmotivadas no trabalho e dizerem que são infelizes no mesmo, mas não saberem exactamente explicar porquê e o que gostariam de estar a fazer em alternativa. Aí já passa por descobrirem o que as apaixona e o que as faria querer saltar da cama de manhã. A acção só pode partir deste conhecimento em casos desses.

Sejamos então mais felizes com as escolhas que fazemos e com as mudanças de ideias que temos. Acredito profundamente que o trabalho influencia muito os nossos dias. Porque nós não devemos levar os nossos problemas para o trabalho mas trazemos os de lá para casa. Somos absorvidos por problemas de trabalho, por discussões com colegas, por questões dos chefes. Passamos no trabalho mais tempo do que passamos em casa ou em lazer. É de extrema importância que sejamos felizes com aquilo que fazemos, na maior parte do nosso dia. Não dá para fazer as coisas em esforço e por sacrifício porque nada ficará bem feito, como profissionalismo e brio.

É preciso encontrar alternativas a más escolhas que fizemos e mudar isso. Se não conseguimos mudar de emprego, por algum motivo, então encontremos alguns escapes ou balões de oxigênio, em em outras actividades que nos dêem prazer.

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Obrigada Catarina por este manual e por teres estado aqui pelo blog. Se quiserem saber mais sobre as temáticas do livro podem sempre aceder ao site e se quiserem saber mais sobre a Catarina podem acompanhá-la no blog Joan of July.