A primeira vez que entrei no Ela Canela já era final da tarde. Percorri as ruas de Campo de Ourique à procura deste sítio novo no bairro. Um renovado café de bairro para as pessoas de Lisboa que mantém as características do atendimento personalizado, caloroso e quente enquanto inova e nos serve tigelas de produtos frescos e saudáveis.

Tinha ao meu lado a Raquel do blog kéké que me desafiou para lanchar. Ela gosta de acabar os dias de forma feliz. E eu, que já tinha aprendido algumas coisas com ela, aprendi mais esta. As sextas-feiras devem terminar com doçura e amizade. Os finais de dia devem ser sempre assim harmoniosos e bonitos. Nesse dia eu disse-lhe que a luz dela é vida. Pelo menos é o que tem sido para mim.

Sentamo-nos na primeira mesa que vimos. Pedimos para acompanhar a nossa conversa fiada um puré de maçã com gengibre, iogurte e granola. Também dividimos umas saborosas panquecas de banana e quinoa com manteiga de avelã canela e mel. Queríamos pedir praticamente tudo, mas rematamos com pão com requeijão e compota de figos. E ali ficamos entre ideias que queremos partilhar uma com a outra enquanto trincávamos as delícias que a Joana nos tinha preparado.

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Nestas coisas dos espaços bonitos há detalhes nos quais eu reparo e que para mim fazem a diferença. Chamem-me maluca, mas eu sou fã de uma loiça bonita. Defeito de blogger, às tantas. Mas acho que uma comida de excelência servida em loiça a combinar pode fazer-nos regressar a um lugar. Isso aliado à composição do prato. Pode não ter nada a ver mas eu ligo a um bonito empratamento. E aquele pedaço de figo cortado em cima das panquecas roubaram o meu coração. Dei a volta ao meu cérebro e pensei ter achado as minhas panquecas favoritas, mas como parecia mal comer as vinte e três que me apeteciam achei que era uma boa desculpa para lá voltar e levar o meu par. Ele só me disse “isto é mega bom” e comeu-as quase todas.

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Voltei a este espaço minimalista, simples, decorado com o essencial, deixando objectos ao acaso, alguns apontamentos de design, uma janela ampla para a rua e uma pequena esplanada para os dias mais amenos. E quando voltei tive o prazer de ter os dois mentores desta ideia, a Joana e o Nelson, na minha mesa a falar comigo e a deixarem-me perguntar o que eu quisesse.

Descobri que na altura em que andavam aos trambolhões com nomes do projecto houve uma história de infância que lhes deu a luz certa. “Desde que eu sou pequenina que a minha avó faz muitas sobremesas e sempre que ela fazia eu encharcava tudo de canela e então ela dizia ‘Lá está ela e a canela'”. Foi neste pregão de avó, que nos deixa sempre fazer tudo, que nasceu o nome perfeito para o sítio onde a Joana ia fazer os seus próprios cozinhados. Ela e a canela já tinham uma história. Ela Canela.

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No início queriam um sítio pequenino onde pudessem vender granola e sobremesas take-away mas ao fim de uns meses de procura surgiu este espaço que era demasiado bom para ser só vendas para fora e foram maturando a ideia. “Nós queríamos um espaço típico, para lisboetas não exclusivamente para turistas. Aqui as pessoas voltam“.

Entra-nos pela conversa dentro uma senhora que trás na mão um fruto estranho e me pergunta se eu sei o que é. Vejo que são castanhas. E ela explica que são castanhas da Índia, para a traça. Apanhou as que vão caíndo das árvores. E deu-me uma. Agora só tenho que a furar e meter junto do meu melhor casaco. Não haverá traças que o comam.

Como reagem as pessoas mais velhas a estes novas casas que servem abacate e quinoa? Qual é a reação das pessoas habituadas à típica padaria? “No início houve imensa gente que vinha pedir um queque e não havia. Campo de Ourique tem muitas pastelarias e muitas pessoas idosas mas nós estamos a ser super bem aceites por eles. Já sabem os nossos nomes, dizem que estão a rezar para que isto corra bem, passam aqui e batem no vidro para mandar beijinhos.”  E mais. Os avós agora podem dizer que têm um bairro cool, onde comem granola e produtos biológicos. “Eles acham piada a isso porque agora dizem que os netos vêm cá mais vezes.”

O espírito do bairro acontece quando a Joana já sabe quem é que gosta do pequeno almoço sem mel ou conhece de cor o nome dos clientes. O espírito do bairro acontece quando esses clientes voltam nos dias seguintes. E era mesmo isto que eles queriam.

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Começaram este negócio por gosto, porque começaram a comer mais saudável e viram imensos sítios giros lá fora que não tínhamos cá. Agora já temos! Nenhum deles tem formação nesta área por isso trabalham com um nutricionista e não se deixam levar por modas. “Nós acreditamos nos alimentos e nas propriedades deles mas têm que ser alimentos que efetivamente tenham essas propriedades não vamos ter aqui só porque estão na moda, tem que fazer bem e efetivamente ser saudável, as pessoas têm que perceber o que estão a comer. Nós estamos sempre a rever os nossos alimentos

De semana para semana o menu muda. Vão-se adaptando à sozonalidade dos alimentos. Desde os parceiros aos fornecedores e produtores tentam escolher as coisas o mais natural e próximas possíveis por isso trabalham com pessoas em quem confiam. Eles fazem a sua própria polpa de tomate.Demolham o grão e o feijão e tentam que os alimentos sejam o menos processados possível. A Joana passa o dia na cozinha a fazer experiências e “todas as semanas são desafios

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É um lugar delicioso pelas características dos alimentos, pela decoração natural em que aposta, pela maneira como servem os pratos e pelo carinho com que tratam os clientes. Por isto tudo torna-se um lugar onde é fácil passar a tarde à conversa sem dar conta do que se passa lá fora, onde a senhora apanha as castanhas da Índia para nos oferecer. Da próxima vez que eu entrar neste cantinho carismático lá do bairro, no meio de Lisboa, onde nos tratam por “menina”, a Joana saberá que pode começar a preparar as minhas panquecas de quinoa.

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