Passamos o dia inteiro cheios de afazeres e temos impressão que, desde manhã até à noite, o dia passou a correr entre todas as nossas obrigações e distrações. Parece que de Junho até agora andámos montados num foguete e daqui a pouco é natal. Não me digam que não, eu já vi árvores e enfeites nas lojas.

Pois é. O tempo passa, ainda ontem era verão. A semana passa sempre num ápice e não tarde é fim-de-semana. Esse então normalmente nem o vemos. Costuma-se dizer que o tempo enquanto estamos de folga é diferente do tempo quando estamos a trabalhar, que passa mais lento que uma tartaruga vagarosa. O tempo quando estamos de férias nem vale a pena falar porque toda a gente sabe e sente que esse anda mais depressa que a luz. Pareço uma velha a falar. Só me falta usar a frase “no meu tempo…”.

Tudo na vida passa muito rápido. Excepto o minuto que passamos em prancha. Deem-me um minuto na posição de prancha que eu digo-vos o que é o tempo. É uma coisa que não se explica mas que se sente a cada pinga de suor que cai. Um minuto em prancha dá para ver passar a história da nossa vida à frente dos nossos olhos e ainda sobra. Dá para dizer a tabuada de todos os números mesmo antes do instrutor dizer que ainda faltam trinta segundos. Um minuto em prancha é o equivalente a um dia inteiro de trabalho mas com muito mais dores no abdominal e falta de força nos braços. Um minuto em prancha é quase como transcender para outra realidade da qual acordas quando dizem o tão esperado “já está”. E nesse momento estatelas-te (não sei se existe esta palavra, mas creio que entendem o que significa) no chão de braços e pernas esticadas pedindo por clemência.

Acho que um minuto em prancha é o momento ideal para eu provar o tão famoso mindfulness. Porque durante aquele minuto eu estou a dedicar a minha total atenção a todas as dores do meu corpo. Durante aquele minuto eu estou focadíssima no que estou a fazer, para não ir com o queixo ao chão a meio do exercício. Nesse momento a minha cabeça não está a pensar no jantar, nem no que vou vestir amanhã, nem na tarefa que vou fazer a seguir (que será conseguir executar o acto de me levantar do chão). Naquele momento estou totalmente entregue à insanidade que um só minuto de exercício pode representar na vida de uma pessoa e estou totalmente dedicada a perceber por que raio quis eu estar nesta posição.Um minuto em prancha é um minuto sem pensar em nada mais do que naquele minuto.

Apercebo-me agora, que quando corria, de facto, eu não pensava em mais nada que não fosse nas minhas dores do joelho (e nas pernas, e no rabo e inclusivamente nos braços também), na minha dor de burro, na minha respiração e na própria corrida, que nunca mais acabava, embora estivesse sempre quase. Isto normalmente demorava de 45 minutos a uma hora, conforme os quilometros que me tivesse proposto correr. Eu realmente não pensava em nada quando corria. Percebo agora que talvez estivesse a praticar mindfulness durante esse tempo.

Agora que não tenho corrido, vejo que no ginásio também não costumo pensar em muito mais coisas senão no sofrimento que estou a sentir em lá estar. E percebi que não importa quanto tempo nos concentramos, focamos e nos dedicamos com atenção plena a alguma coisa. Qualidade em vez de quantidade importa no mindfulness também. E o tempo não não passa de igual forma em todas as actividades do nosso dia. Em prancha, um minuto é mesmo muito tempo.