Há alturas da vida em que naturalmente não nos sentimos motivados. São poucas as coisas positivas que vemos à nossa volta e não há coisas que nos inspirem facilmente. Eu às vezes tenho essa altura, mas depois, percebo que há motivação, positivismo e inspiração em todos os lugares, eu é que não os vejo, porque não olho sequer.

Foi por causa de momentos como esses que decidi fazer este post em parceria com a psicóloga Filipa Jardim da Silva. Além de conhecer a Filipa,pessoalmente, e gostar muito dela, também, admiro o trabalho que faz e a forma como o encara e vibro com as mensagens positivas que nos passa, todos os dias, nas suas redes sociais. A quatro mãos dedicamo-nos ambas a este texto onde aproveitamos a minha própria experiência com a desmotivação aliada a experiência dela com estados de desalento.

É fácil, para mim, perceber, à distância, porque é que às vezes não vejo sinais de coisas motivadoras ou inspiradoras. Isso acontece quando estou demasiado focada naquilo que me corre mal, claro. Quando dedico muito tempo à minha vida acomodada. Eu nem chego a sentir más energias porque simplesmente não sinto energia nenhuma. Eu não sou de acreditar, sequer, nisso de energias então demoro-me muito tempo à volta das minhas ideias absolutamente certas (ou neste caso, tremendamente erradas) sobre tudo.

Calma. Isto é importante dizer. A minha vida nunca foi uma redoma obscura. Eu sou uma pessoa super bem-disposta e alegre. Eu estou sempre pronta para a festa e se for preciso eu mesma encho os balões. Tenho uma família e amigos super disponíveis. Não vivo com problemas realmente sérios e sempre pude fazer tudo aquilo que quis. Nunca fui infeliz, nem triste, pelo contrário, sempre tive uma enorme vontade de criar, de avançar e fazer coisas. Sou dedicada, tenho objetivos, aspirações e sonhos. Talvez sofra um bocadinho daquilo a que a Filipa chama de insatisfação crónica.

Desmotivação, insatisfação, esvaziamento. Palavras diferentes que traduzem o mesmo: ausência de realização pessoal. E o que é preciso afinal para nos fazer felizes? De que necessitamos para chegar ao final do dia com a sensação de missão cumprida, de que vivemos uma vida com sentido? Afinal, de que precisamos, então, para nos sentirmos bem? Conseguem responder?

Estas perguntas que a Filipa Jardim da Silva faz, foram as minhas quando comecei a acordar do meu piloto automático e a consciencializar-me da desmotivação que às vezes contagia os meus dias. E não sendo a desmotivação por si só um estado patológico, a verdade é que a insatisfação crónica tenderá a fragilizar a nossa saúde psicológica e bem estar global.

Até que houve um clique. Isto dos cliques é um cliché, mas paciência, que seja. Uma noite, no início do ano de 2016, estava eu deitada no meu sofá, no mais profundo ócio quando decidi que ia fazer coisas novas. Caramba, quando é que tinha sido a última vez que eu tinha feito uma coisa nova? Em Janeiro comecei a correr. Eu nem gostava de correr. E ainda não gosto. Aliás, já não o faço há algum tempo. Mas ter saído, num final de tarde, do meu sofá, para ir correr, ao frio, foi o meu acto de coragem de 2016. Nesse dia quando cheguei a casa escrevi um texto nas notas do telemóvel e decidi que ia voltar ao blog que tinha abandonado há uns tempos.

Eu tinha metido na minha cabeça que ia fazer coisas novas e este blog havia de ser a maior delas. Este blog surgiu da minha necessidade de me motivar a mim própria. E tem sido o meu balão para voar. Sinto-me absolutamente feliz quando estou a escrever aqui. Orgulho-me do que faço porque me faz sentido e acredito mesmo nisto. Descobri que o segredo era perceber aquilo que eu realmente gostava de fazer. E os meus propósitos mudaram. Encontrei aqui a minha motivação para ser positiva. E encontrei aqui também as minhas inspirações. Por causa do blog já conheci pessoas diferentes, já fiz coisas que nunca tinha feito, já li coisas que nunca tinha lido, já pensei coisas que nunca tinha pensado. Até já acredito um bocadinho que pensamentos positivos atraem coisas positivas, mas não digam a ninguém porque ainda estou a aprender isto. No fundo foi só uma questão de abrir os olhos e ver aquilo que eu nunca tinha visto. Já não estou assim tão ocupada a acomodar-me, estou mais ocupada agora a fazer coisas novas.

Para além das necessidades nutricionais também temos as necessidades psicológicas por satisfazer, necessidades como o prazer e a tolerância ao desconforto, a partilha e a diferenciação, o auto-elogio e a auto-crítica construtiva, a produtividade e o lazer sem culpa. Necessidades que podem ser abastecidas em actividades do dia-a-dia e que se complementam entre si, tendendo para o equilíbrio.

Então, o que fazer?

  • Despertar os nossos sentidos e conectarmo-nos ao nosso corpo no momento presente, assumindo uma postura consciente e inteira no aqui e agora;
  • Apropriarmo-nos do poder que temos diariamente para satisfazer as nossas necessidades em falta;
  • Responsabilizarmo-nos pelo nosso bem estar ao invés de nos resignamos a sobreviver mais um dia, ganhando consciência para fazer escolhas melhores e que contribuam para uma existência com mais significado;
  • Perceber que não vamos nunca concretizar tudo o que queremos portanto necessitamos de calibrar a nossa insatisfação de base e ao mesmo tempo perceber o nível de insatisfação que não pode ser ignorado.

A Filipa diz que o meu motor motivacional é algo que pode ser inspirador e servir de despertar a outros. O meu foco foi motivar-me a mim mesma, voltar a sentir-me com um propósito. Não foi um foco externo superficial ou efémero. E quando assim é estamos no bom caminho. Precisamos de sentir prazer no nosso dia-a-dia, doses regulares de novidade que complementam a capacidade de acomodação à rotina, também ela necessária. Precisamos de actualização e aprendizagem contínuas e de enriquecimento com partilha e interação com os outros. Precisamos de ligar mais o modo ser e sentir em detrimento do modo fazer e ter para alcançar a melhor versão de nós mesmos. Estes são os conselhos da psicóloga Filipa e a minha própria experiência motivacional. Quais são as vossas experiências e os vossos conselhos?