Escrita Criativa
Desceu as escadas com dores na mão. Abriu-a e fechou-a várias vezes. Uma dor intensa. Mas não esteve aos murros a nada, só à imaginação. Esteve a escrever, sempre gostou de escrever à mão. As palavras saem mais naturalmente, mais instintivamente. É tudo mais fácil escrito à mão. Mas não era só a mão que lhe doía.
A cabeça também estava a latejar. Mas não era uma dor má. Quer dizer, as dores são más, sempre, mas esta era de trabalhar a criatividade. Sentia a cabeça mais do que a doer, muito cheia. Cheia de ideias, cheia de vontades. Era dor de processo criativo.
Durante os dias normais, em que trabalha não costuma ser preciso estimular muito a sua criatividade. E por isso ela não deixa sair tudo o que tem. Durante os dias normais andamos fazemos tarefas repetitivas e mecânicas que sabemos fazer muito bem, porque são sempre iguais, e por isso não exigem de nós mais do que aquilo que costumamos dar. Quando, nesses dias, temos dor de cabeça, é porque estamos extremamente cansados desse processo. Essa dor é diferente.
Quando desceu aquelas escadas sentia o latejar latente de pensar, de criar, de ter sido ela a exigir mais de si própria. A cabeça estava agora com excesso de informação positiva e com vontade de fazer outras coisas, diferentes e mais animadoras do que aquelas que fazia o resto dos dias. O processo de aprendizagem tem muito disso, estimula e motiva.
Escrever durante um dia inteiro não a cansou, impeliu-lhe sim sentimentos de desenvolvimento e capacidade de descoberta e satisfação pessoal. Ela sabia que seria capaz de escrever sobre tudo o que lhe pedissem. Mesmo que seja para escrever sobre meias ela escreve. Ela sabia que seria capaz de inventar. O que não sabia é que também podia ser capaz de falar noutras vozes, de falar de pessoas que não conhece, mas que pode ser ela a criar e de falar sobre sentimentos que não tem ou de coisas que não sente, mas que pode inventar.
O processo de escrita criativa implica surpresa. Ela, neste texto, sou eu depois de sair do workshop de Escrita Criativa da Rita da Nova. Este workshop serviu para desbloquear a escrita, através de exercícios pequenos, que nos provam que, afinal, escrever é bem mais simples do que pensamos. Este foi um dia em que escrevi de manhã até ao fim do dia. Umas vezes mais profundamente, outras mais ao de leve. Escrevi sobre coisas que nunca tinha escrito e de maneira que nunca tinha feito antes e isso é que me fez perceber que a escrita tem ainda mais coisas para me contar. A escrita tem ainda mais coisas para me dar. E eu ainda posso fazer tanta coisa com ela. Há tantas formas de se sentir as coisas. Escrever também é sentir.
A inspiração não existe, quer dizer, depois de estarmos no mood da escrita ela vem ter connosco sem esforço. Foi isso que senti sentada àquela mesa, rodeada de energia, enquanto a Rita nos pedia para escrevermos como objectos, sobre palavras, para nos descrevermos ou simplesmente para olharmos em volta e ouvir o que dizem as pessoas. Em todo o lado há vida a acontecer, em todo o lado há histórias. O que mais gostei neste workshop foi de não saber nunca aquilo que vinha a seguir e mesmo assim nunca ter pensado que não ia conseguir escrever.
Obrigada à Rita da Nova pela força avassaladora que tem ao transmitir conhecimentos, pela sua paixão dedicada às letras, pelas técnicas de escrita que ensinou, pelos caminhos que nos mostrou que é possível ir, pelo à vontade em que nos coloca e pelo respeito que tem pelo que dizemos com as nossas canetas a roçar no papel, porque escrever às vezes é demasiado íntimo. Vai haver novo workshop, no dia 18 de Dezembro, em Lisboa, e esta pode ser uma forma bastante inspiradora de terminarem o ano e ainda o mote incentivador para começarem 2018 motivados e conscientes das vossas capacidades. Uma página em branco nunca deve ser um elemento bloqueador, pelo contrário, deve ser o princípio de grandes histórias.
Green
Muito interessante, sem dúvida que é algo que eu gostaria de experimentar.
Messy Jessy
Que máximo! Também queria muito fazer algo assim.
Tenho de ir espreitar esse que foste.