Desmistificar o dia da mulher
Eu não gosto de baton vermelho nem gosto de meter creme no inverno. Mas não é isso que me define enquanto mulher. O que me define é estar aqui a dizer isto. O que me define é que posso usar o facto de ser mulher para mudar mentalidades e abrir caminhos. O dia da mulher só existe (precisamente) porque ainda é necessário estar aqui a escrever isto.Será que o feminismo está na moda? Talvez esteja. Mas também nunca achei que fosse a ficar calada que as coisas iam mudar. Eu não sou extremista nem fundamentalista, mas a aceitação da mulher como um ser igual ao homem precisa de ultrapassar as estampagens nas camisolas da moda e as frases feitas, e ditas inspiradoras, nas redes sociais.
Eu acho que ser mulher é ter poderes de superação. Porque, vejam bem, as mulheres ultrapassam os obstáculos com uma coisa que se chama resiliência (e às vezes quatro braços). Temos a capacidade de usar todos os cantos do nosso cérebro (e a nosso favor). As mulheres têm demasiadas valências e usam-nas a todas (ao mesmo tempo). É por isso que somos capazes de rir e chorar em simultâneo. Está desfeito o mistério. É por isso que as mulheres conseguem ser várias coisas: cultas, profissionais, desportistas, amigas, filhas e mães. É por isso que conseguimos ir trabalhar, frequentar o ginásio, preparar o jantar e a marmita de amanhã, enquanto damos um jeitinhos à cozinha, lemos um capítulo do nosso livro e ainda nos lembramos de tirar a maquilhagem antes de dormir.
O dia da mulher precisa de ser mais do que um movimento
Precisamos de ser menos vistas como activistas e mais como transformadoras. Podemos começar por acabar com alguns preconceitos. Títulos nos jornais que falam de mulheres em empregos de homens, por exemplo. Todos os anos, no dia da mulher, ouvimos falar da mulher que é camionista, da mulher que é bombeira, polícia ou mecânica. O que pode parecer uma coisa positiva na aquisição de direitos acaba por ser, na verdade, o problema quando AINDA lhes chamamos “empregos de homens”.
Mais. “Há um dia da mulher, mas não há um dia do homem”. Quem já ouviu esta frase? Não devia ser necessário haver um dia mulher. Aliás, como é que chegamos até aqui com este dia ainda a fazer sentido? Se queremos igualdade, de facto, ele não devia existir, eu até concordo. Mas caraças, ele existe não só para lembrar a luta que foi preciso travar, no passado, para alcançar o mesmo lugar que os homens na sociedade, mas também existe para lembrar a luta que travamos, ainda hoje, no PRESENTE.
Hashtag Together we stand
Mas estes problemas não acontecem exclusivamente por causa dos homens. E esta é prova de que não sou fundamentalista. As mulheres não precisam que os homens lhes passem por cima ou as deitem abaixo porque as próprias mulheres fazem isso umas às outras. É verdade. Não sejamos hipócritas. A mulher que sente dificuldade de chegar mais longe acha que será mais fácil fazer o caminho derrubando a “concorrência”. Ora, funciona exactamente ao contrário. As mulheres têm que perceber que não podem pedir justiça quando não são justas com elas próprias. As mulheres precisam saber que o primeiro passo contra tudo o resto é estarem do mesmo lado. Se formos o suporte umas das outras e se colaborarmos podemos fazer com que as nossas vozes falem mais alto. Juntas. #togetherwestand
Joana Sousa
Olé! Muito bem, Andreia – só não concordo com uma coisa, eu acho mesmo que este dia deve existir. O Dia da Mulher para os “países desenvolvidos” foi virado para o lado comercial de uma forma doentia, nisso concordo. Mas é necessário celebrar as conquistas (tal como temos dias de celebração para muitos outros factos históricos) para que elas nunca caiam no esquecimento e não se retroceda, e é necessário relembrar realidades que podem não ser tão próximas ou tão evidentes no nosso dia-a-dia mas que existem ainda por todo o mundo e mesmo na casa da vizinha. Se não falarmos dos assuntos, nada muda. É óbvio que devemos lutar por isso todos os dias, mas dar destaque a estes assuntos não me parece má ideia. 🙂
Jiji
Andreia Moita
Joana, faz-me sentido aquilo que dizes. Tens toda a razão. O que eu quero dizer é que não devia ser necessário hoje, nem devia ter sito necessário nunca, nem aqui nem em lado nenhum. Mas já que aqui chegamos, a este século, com as coisas como estão…sim, é necessário existir o dia. Beijinhos e obrigada porque é importante debater este assunto.
Green
Eu não gosto de dias disto ou daquilo, acho que não fazem sentido algum. Isto porque somos mulheres todos os dias, não apenas hoje, e não faz sentido existir um dia que, por muito que possa ter todos os significados que disseste, serve apenas para o consumismo, é jantares aqui e acolá, cheios de “amigas” com que não se fala durante um ano porque temos de ir atrás dos outros, fazer igual e colocar 1000 fotos nas redes sociais a mostrar como estamos felizes neste dia. Ninguém se lembra disso que disseste, infelizmente.
Pois que eu não alinho nisso, se quero ir jantar com as minhas amigas chegadas, não é com as mulheres todas que existem num raio de 10 km, eu janta num dia qualquer em que possa realmente aproveitar a companhia delas. Quanto ao dia em si, que hoje em dia faz cada vez muito sentido, passa-me completamente ao lado.
Rititi
Mais uma vez, um texto magnifico e equilibrado. Sem falsas modéstia, apenas a tua visão e opinião. No entanto creio que haver o Dia da Mulher não mata ninguém e é muito bom existir porque à parte do comércio em torno disso, há uma mensagem, uma causa, com anos e anos de existência. Pode ser chamado de lembrete daquilo que os nossos antepassados tiveram de fazer, passar, sacrificar, para hoje estarmos no patamar que estamos. Um dia mega feliz para ti!
Joana
Concordo completamente!! Apesar de gostar de usar batom vermelho :p
Beijinhos
Joana
https://curlyhairandlipsticks.wordpress.com/
Miss DeBlogger
De facto, o ideal seria não ser necessário haver um Dia da Mulher. Mas se assim é por alguma razão o foi e continuará a ser enquanto ouvir a minha avó a avisar-me para ter cuidado à noite. Para bom entendedor meia palavra basta #togetherwestand 😉
missdeblogger.blogspot.pt