Tailândia

A viagem à Tailândia foi feita na altura certa e com as pessoas certas. E fez sentido ser neste momento porque eu estava preparada e cheia de vontade de a viver. Há experiências que precisamos de ter durante a vida. A experiência que uma viagem nos proporciona é sempre uma delas.A viagem à Tailândia fez sentido neste momento. Fez sentido depois de já ter conhecido Marrocos (e ter testado lá os meus limites de cosmopolita) e de ter feito um interrail de sete países. Fez sentido depois de conhecer as praias do México, de Punta Cana e de Cuba.

Foram quinze dias a viajar de mochila. A apanhar aviões, barcos e autocarros. Foram quinze dias a visitar a cultura das cidades e das gentes. Quinze dias à procura das melhores praias. Quinze dias de chinelos nos pés, a sentir o meu adorado calor, a dar mergulhos de água quente, a cheirar o sal na pele. Foram quinze dias sem secar o cabelo e a usar repelente e protetor solar em vez de maquilhagem. Quinze dias a viver com amigos e a construir histórias e a criar memórias com eles. Quinze dias a viver uma realidade distante e claro, diferente, da minha. Quinze dias a aprender, a conviver, a ver, a absorver e viver outra vida.

Primeiras considerações sobre a Tailândia

Aproveito este primeiro post, desde o regresso, no domingo, para abordar as minhas primeiras impressões da Tailândia. É assim uma coisas muito por alto e ainda com muitas coisas a saltitar no meu coração. Farei mais tarde, os posts com o roteiro pormenorizado do que fiz.

Banguecoque, a cidade

Era meio da tarde quando cheguei à Kaoh San Road, uma das ruas mais movimentadas da cidade. Aquilo que aconteceu foi completamente surreal, mas marcou, sem duvida toda a viagem. Centenas (ou milhares, eu sei lá) de pessoas andavam pelas ruas com bisnagas e baldes de água que, descaradamente, atiravam uns aos outros. Nós, sete turistas, carregados de mochilas, em direção ao hotel, ficamos rapidamente envolvidos naquele ambiente, sem escapatória, e completamente encharcados. Estava calor e eu só me ria. Iria ser sempre assim? Não foi. Tivemos a sorte de “apanhar” o dia de final de ano e de vivenciar a forma como o festejam. No dia seguinte dava-se início o 2018 na Tailândia.

A minha opinião sobre Banguecoque é que ela é uma cidade um pouco confusa e cheia. Degradada, poluída e  os mais atentos até podem ver umas baratinhas e ratinhos. Pelas ruas, as motas contornam as pessoas e as bancas de comida estendem-se pelos passeios, misturando cheiros pelas ruas. No entanto, nunca senti nenhuma ameaça nem medo na cidade, andei sempre bastante à vontade e descontraída.

A cultura e as tradições

A fé e devoção pelo budismo são características dos tailandeses. Sempre que visitamos templos, e todos os lugares sagrados, devemos cobrir a maior parte do corpo. Ombros e joelhos à mostra são sinais de desrespeito e nem mesmo os homens podem andar de calções. Os pés são considerados a parte mais impura do corpo e portanto nunca devem ser virados para a imagem de Buda. Entrar calçado em qualquer templo é considerado ofensivo, pois se os pés são impuros, os sapatos são sujos. Em algumas lojas é obrigatório descalçar também. Por isso, não é fora do comum encontrar meia dúzia de sapatos à porta de qualquer lugar. Cheguei a ficar num hotel onde devíamos deixar os sapatos à entrada, em lugar próprio para eles, e andar descalços lá dentro. Até mesmo o senhor da pizza se descalçou para entrar e entregar-nos a comida dentro do nosso alojamento.

Temos de negociar o preço das coisas, desde as compras até ao táxi. Claro que há sempre quem nos tente enganar, já se sabe que o turista terá à partida mais capacidade financeira. Mas para tudo há excepções e tivemos mesmo o caso de um taxista que em vez de nos cobrar e levar a dar uma voltinha ao quarteirão, nos ensinou o caminho para o hotel a pé, que era a dois minutos. Quando queremos agradecer por algo devemos unir as mãos, palma com palma, junto ao peito.

As vilas

Encontrei muitos sítios onde as praias eram as mais bonitas de todo o sempre, mas o centro das ilhas (onde estão os hóteis, restaurantes e todo o comércio) bastante mal tratado. Eu acredito que isso é, infelizmente, ainda o resultado de poucos recursos e falta de condições para a recuperação da tragédia natural que assolou o país há uns anos atrás.

O clima

No final do mês de Abril, aquilo que experienciei foi o maior calor de sempre. A Tailândia tem um calor húmido daquele que nos faz escorrer em água. Não é uma imagem bonita, mas é o que acontece. Não me estou a queixar, porque eu gosto de calor e tolero-o batente bem. Foi frequente ao escurecer assistirmos a trovoadas e à noite houve, quase sempre, uma chuvada tropical de poucos minutos, que nem por isso abradava a bela sensação térmica.

As praias

Como disse no início do post já visitei algumas praias consideradas paradisíacas. E achei, até hoje, que aquilo das águas do mar serem quentes era um mito. Pois, não é. Na Tailândia toda a água é quente. Não me estou a fazer entender. Não é água tépida. É quente mesmo. Daquela que faz enrugar os dedos após três minutos e nos faz ter frio cá fora mesmo com quarenta graus. Cheguei a não saber se devia mergulhar ou ficar à sombra quando queria “refrescar”. E isso era mesmo bom!

A envolvência das praias é das mais bonitas que já presenciei. Eu sou suspeita. Adoro praia. Mas praias em que parece que estamos dentro de um filme são outra coisa. Praias onde nadamos com pano de fundo, sabem? Praias onde o pôr do sol nos oferece experiências únicas. Praias como aquelas. Podia ver o sol por-se ali, todos os dias da minha vida. Fiquei fascinada com a envolvência natural daqueles sítios com areia e água salgada. Uma beleza incontornável. E eu voltava já para lá sem dificuldade. Para sentir outra vez toda aquela leveza. Ah, voltava.

Há sempre um “mas”. Sou obrigada a dizer que a vida turística está a arruinar muito a beleza destas praias. Encontrei muita tristeza naqueles corais mortos e sem cor. A quantidade de barcos por dia naquelas praias não contribui para o ambiente e vida do oceano. O lixo deixado pelos turistas muito menos. Por isso mesmo algumas praias serão interditas e ficarão fora da rota dos turistas por uns tempos de modo a recuperar aquilo que é natural nas ilhas e devolver-lhe o merecido nome de “paraíso”.

A comida

Eu sabia que, à partida, esta seria a minha principal dificuldade. Esquisita que sou, não ia conseguir comer tudo e muito menos em qualquer lugar. Comecei por fazer a rota do Pad Thai, uma comida com massa, frango e amendoim, que já tinha provado em Lisboa para garantir que não morria de fome. Mas quando me fartei tentei enveredar por outros caminhos. Precisei sempre de escolher restaurantes com bom aspecto, para aliviar o meu psicológico e na maior parte dos casos correu bem. A confecção da comida tinha bastante picante e condimentos mas acabei por conseguir experimentar refeições que me agradaram e que voltei a repetir, como o arroz com ananás e o frango com cajus. Também acabei por provar comida de rua, nem a experiência ficava completa sem isso, e devo acrescentar que sabia bem.

Nunca bebi água sem ser engarrafada, nem consumi bebidas com gelo. Tive cuidado com os gelados e com marisco. Sou maricas e não arrisquei nada que me pudesse parecer suspeito. É de ressalvar que fomos sete pessoas a viajar, mantivemos os cuidados básicos e nenhum de nós ficou doente nem um dia. Palmas para nós!

O Jet Lag

Esta viagem serviu para desmistificar outro conceito. O jet lag existe. Cheguei no domingo, à hora de almoço. Pelas 19h adormeci no sofá e acordei às 21h, quando a comida me chegou a casa. Voltei a deitar-me depois de comer. Antes das 8h de segunda já estava acordada. Sai durante a manhã, mas depois de almoço dormi a tarde inteira. Só acordei para jantar e… voltei a dormir. Era como se os meus olhos fechassem automaticamente.

As primeiras impressões desta viagem são muito positivas. Eu voltava para a ilha agora mesmo. Porque saber o que está para lá do desconhecido é sempre uma mais valia para a nossa formação de carácter e personalidade. Os nossos olhos puderem ver aquilo que não estão habituados é um privilégio. Aprender a lidar com situações com que não temos de nos deparar habitualmente. Ver outras pessoas. Saber que existem outras visões e outras realidades para além da nossa é uma coisa, vê-las, experiencia-las e senti-las é outra. E isso, faz sempre a viagem valer a pena. As memórias que trazemos dentro de nós valem sempre a pena.

[Obrigada aos meus amigos que me ajudaram a conhecer a Tailândia e a ficar com ela no meu coração. Viajar em grupo resulta quando todos sabemos respeitar a vontade do outro e deixamos que sejam livres para fazerem o que mais gostam. (E isto ainda dá outro post). Obrigada pelas experiências. Pelas partilhas. Pelas conversas sérias em férias. Pelas noites de diversão. Pelas aventuras e loucuras. Pelos mergulhos. Pelas gargalhadas que me arrancaram. Obrigada pelas vezes me meteram creme nas costas e repelente nas pernas. E obrigada por me deixarem escolher os restaurantes! As recordações da viagem fazem da Tailândia um país maravilhoso e isso também aconteceu porque vocês estavam lá.]