Vamos mudar de casa

Há cinco anos sai de casa dos meus pais e arrendei uma casa com o meu nerd favorito. Não somos iguais mas funcionamos muito bem como dupla há onze anos e a viver juntos há cinco. Eu sou a versão analógica e ele é a versão digital. Vamos continuar a ser assim (e a fazer as limpezas com a vassoura a fingir de microfone) só que vamos mudar de casa.

Criei a rubrica Home Sweet Home no dia em que passamos a tarde a escolher móveis no Ikea. Nesta rubrica contei-vos tudo o que se passa aqui. Desde os tempos em que não sabíamos se uma camisola branca às bolas pretas ia para a roupa branca ou para a roupa preta. O Home Sweet Home é mais ou menos uma espécie de diário de bordo da nossa vida juntos nesta casa onde:

  • Engordamos nos primeiros meses de vida em conjunto porque havia uma extrema necessidade da nossa parte de mostrar aos nossos pais que não íamos definhar de fome.
  • Encolhemos um vestido (que continuo a vestir mesmo acima do joelho) e demos nova cor a algumas camisolas quando as juntamos todas na máquina de lavar.
  • Perdemos tampas de tupperwares por aí e ganhámos outros tantos. A história de trazer comida de casa dos pais e distribuir sobras de  quando damos festas nunca deu bom resultado para ninguém, não é? Estou há uma vida a dizer aos meus amigos que aquela tampa preta não é minha, mas ainda ninguém se acusou.
  • Vestimos roupa engelhada porque a vontade de passar a ferro nunca apareceu cá por casa.
  • Matámos várias plantas. Um dia até quisemos ter um jardim. Mas nenhuma plantinha sobreviveu nesta casa até ao dia em que ele decidiu regá-las com água do Luso. Ficou nomeado jardineiro e a Luso devia patrocinar isto.
  • Acumulámos várias “dicas da semana” dentro da caixa do correio por nunca lá irmos. Foi difícil a habituação mas depois metemos um papel a pedir para não nos enviarem publicidade. E passaram só a ficar lá avisos de recepção fora do prazo.
  • Aprendemos a estender a roupa numa marquise e agora não sei como será estender a roupa fora da janela sem deixar cair as molas, ou pior, as cuecas.
  • Montámos armários do Ikea e passámos nisso umas boas tardes sempre que eu queria mudar alguma coisa. O que acontece com mais frequência do que ele gostaria.
  • Ele tentou mudar de canal todas as noites enquanto eu via a novela. Ele dizia que era porque eu estava a dormir, mas eu não estava!
  • Fizemos tantas e tantas listas de compras e sempre que voltávamos para casa faltava sempre qualquer coisa.
  • Roubei-lhe várias gavetas do armário, metendo lá coisas minhas, até ele me deixar comprar um roupeiro novo.
  • Limpámos todos os fins-de-semana esta casa ao som de música brasileira e lidamos com a paciência infinita dos nossos vizinhos para este facto.
  • Vimos Portugal ser campeão europeu nesta casa. E fizemos a maior barulheira sem que os vizinhos reclamassem. Pelo contrário, eles também se juntaram a nós quando descemos as escadas e corremos todos muito loucos à volta da praceta.
  • Deixámos duas vezes as chaves dentro de casa e tiveram de vir os bombeiros e os vizinhos ajudar (impecáveis)
  • Perdemos alguns anos de vida à procura de lugar para estacionar. (Vamos mudar de casa por causa disto também!)

Fizemos isto tudo numa casa que não era nossa. Era uma casa arrendada que nos pareceu a melhor solução para início de vida. E foi durante cinco anos. Fomos felizes aqui. Mas as coisas evoluem e é chegada a hora de avançar mais um passo na nossa vida em comum. Está na altura de construir novas histórias numa casa que escolhemos comprar e ser realmente a nossa. Vamos mudar de casa.