Tempo

Houve uma altura em que seguia o sol para ir de férias. Sem destino, abria a meteorologia e ia para onde estava bom tempo. Há poucas coisas que me influenciam tanto como o tempo faz. Aquela capacidade de me deixar sem saber o que fazer num fim-de-semana de Julho. Há muito que deixei de calçar botas e renuncio aos casacos, mas a falta do sol começa a deixar-me mal disposta.

Eu bem sei que todos devíamos ter como lema não nos deixarmos consumir com aquilo que não podemos controlar. Mas quer dizer…é Inverno há mais ou menos oito meses. Há que haver períodos na vida em possamos ter pena de nós próprios, ou não? Já estou um bocadinho farta de meter bases escuras para meter uma cor nesta cara que irremediavelmente fica de tom diferente do resto do corpo. Já estou muito cansada do casaquinho e de ter frio nos tornozelos.

Há coisa mais feia do que uma praia ao frio em Julho? Aquele vento desagradável que nos empurra a areia para dentro das orelhas, alguém gosta? Aquela neblina fresca que esconde o sol atrás das nuvens? Aquela cor do mar tão escura sem o verão a brilhar lá?

O tempo já deixou de ser desbloqueador de conversa porque subiu de nível. Agora é assunto de conversa mesmo. Estamos em Julho e eu embora seja toda pela modernidade há tradições gostaria de manter. O verão é uma delas. Ainda se lembram de calçar uma sandália? A velha ventoinha para nos refrescar, estão recordados do que é? Os gelados a derreter pelas mãos abaixo tanto é o calor… ainda vos diz alguma coisa?

Andamos todos com vontade de mudança. Queremos mudar coisas em nós, queremos mudar de emprego, de casa, de vida. Queremos mudar um bocadinho o mundo até. Será que o verão também se vai mudar? Para dezembro? Todas as questões de temática ambiental não são só conversas. Já podem acreditar agora. Lembro-me de falar de alterações climáticas há mais de dez anos. Ainda faltava muito. Talvez já não falte. Talvez já estejamos a viver aquele futuro que estava tão longe.