sereia

Sinto um fascínio pelo mar. E sou incapaz de explicar. Aprendi a nadar em criança. E foi numa piscina. Talvez tenha uma adoração pela água no geral. Não tenho medo nem de água fria. Se eu fosse uma sereia havia de encontrar uma água diferente todos os dias.

Há sempre uma espécie de atração pelo (que consideramos) impossível. O mar com as ondas que se enrolam por dentro e com o sabor discreto de sal é uma adoração que tenho em segredo. Talvez toda a gente goste do mar, mas não da mesma maneira. Quando era mais nova escrevi um conto que se passava no fundo do mar. Influências de “Pequena Sereia” que cantava com o Sebastião e da “Menina do mar” escrita por Sophia de Mello Breyner. Quando era pequena fingia ser todas as princesas da Disney. E quando era a Ariel nadava no sofá. Se eu fosse sereia tinha barbatanas verdes.

Eu via todas as séries sobre o mar. A água sempre foi o meu elemento preferido. Ainda é. Adoro a sensação que tenho no corpo quando mergulho. Desde a água que me entra pelo nariz até ao enregelar dos ossos. A liberdade que sinto quando tenho a água a passar-me, cheia de força, entre os dedos, não é igual em mais lado nenhum. Se eu fosse sereia podia dar cambalhotas no mar sem ficar tonta.

Nadar no mar, deitar-me lá só. Deixar-me ficar. Flutuar. Coisas que não podemos fazer em mais lado nenhum. Mas só conheço o que se vive à tona. Se eu fosse sereia podia andar debaixo de água e conhecer o que se passa lá em baixo sem precisar subir para respirar.

Adoro o mar quando é azul. Quando é claro e me deixa ver os pés. O mar lá ao fundo é sempre mais escuro. Tem mais segredos. Acho que sou a miúda do mar. Mas se eu fosse sereia o mar podia ser da miúda também.