ler

Comecei a ler muito nova e sem ninguém me obrigar. Lembro-me de ir ao supermercado com os meus pais e pedir sempre um livro. Era a coleção da Anita, Uma Aventura e mais tarde qualquer outro título que me chamasse a atenção.

Na escola gostava da biblioteca e o meu sonho era ter uma casa, na casa dos meus amigos gostava de ver os livros que tinham. Receber livros no natal era uma alegria e li os Maias antes mesmo da professora recomendar porque sabia que ia gostar. Não gostei de todos os livros que li. Mas nunca deixei um a meio. Manias de leitora. Já li mais do que um livro ao mesmo tempo. Prefiro sempre que tragam o seu próprio marcador. E fico um bocadinho irritada quando a lombada fica estragada, por isso leio sem abrir muito o livro.

Ler para mim sempre foi divertido. Entrar na história. Alegrar-me e irritar-me, porque estava lá com eles. Ler é entretenimento, mas também é cultura e conhecimento. É saber mais sobre coisas que não vimos ou não sentimos. Há quem goste muito e quem não goste nada. Mas duvido muito que quem experimente o prazer da leitura alguma vez deixe de querer ler. Ler é um bocadinho solitário.

Perguntei a algumas pessoas o que era ler para elas. Como encaravam esse acto, o que significa na sua vida e que livros recomendariam. Escolhi quatro pessoas com estilos e gostos diferentes, para percebermos que isto de lê dar para todos.

Helena Magalhães, criadora do #hmbookgang no instragram

“Ao ler vivemos tantas outras vidas. Ler ajuda-nos a ser seres humanos mais empáticos com as emoções dos outros porque, em leitura, vivemos mil e uma emoções e conseguimos pôr-nos na pele de mil e uma pessoas.”

A Helena diz que são os livros que a escolhem a ela, apesar de considerar isso um pouco cliché. Porque a escolha do tipo de livro “depende do estado de espírito” e ainda refere que há uma sensação de viagem que a faz passar o dia a flutuar porque ainda se sente dentro da história. É esta a motivação que a faz abrir sempre mais um livro: “procurar mais e melhores emoções a retirar de cada história”.

Sugestão de livros da Helena são “A história de uma serva” de Margaret Atwood; “O rouxinol” de Kristin Hannah; “A mulher à janela” de A.j.Finn; “O sol também é uma estrela” de Nocola Yoon e “Uma morte súbita” de J.K.Rowling. Leiam também as histórias que a Helena escreve no seu blog, em nome próprio, Helena Magalhães.

Rita da Nova, a entusiasta da leitura que sem saber motiva os outros

“Enquanto a minha avó andava nas coisas delas, na cozinha, eu ficava agarrada ao mesmo livro, a folheá-lo sem parar, mas dois pormenores muitos curiosos: eu não sabia ler e o livro tinha de estar de pernas para o ar.”

Tal como eu a Rita lê desde pequena. Sempre foi um acto de estar consigo mesma. Antes eu não entendia muito bem este conceito, porque vivia sempre a precisar do barulho dos outros. Hoje entendo muito bem o que a Rita diz sentir quando lê um livro. Para a Rita, que podemos ver no blog Rita da Nova,  ler leva-a a sítios onde nunca foi e onde nunca poderá ir. Recomenda muito a leitura de Murakami, de Vargas Llosa e de Garcia Marques.

“A pequena Rita que lia os livros ao contrário e não deixava que os pusessem direitos fazia-o porque era uma maneira de estar só com ela, de se conhecer, de ganhar hábitos. É esse, para mim, o motivo pelo qual precisamos tanto de estórias: porque elas nos dão um sítio onde podemos estar só connosco mesmos. Dão-nos espaço para nos conhecermos e nos definirmos.”

Paula Cordeiro, a liberdade de gostar de vários estilos

A Paula nunca foi uma leitora ávida, nem nunca ficou a ler noite dentro. “Assim, sinceramente, quando leio? Quando posso.” A sinceridade da Paula fascina-me. Porque ela não lê sempre. Mas não esquece nem desvaloriza os seus benefícios: “Ler é importante porque nos estimula a imaginação, ensina a pensar, ajuda a saber escrever. Na verdade, é importante porque é extremamente gratificante. Além disso, aprendemos coisas.”

“Sou uma leitora muito eclética e difícil. Não leio tudo e não sigo escritores, mas sim histórias.” A Paula escreve no blog Urbanista e lê muitas coisas práticas na onda da alimentação, auto-estima, realização profissional, pilates e yoga. “Li muitos romances quando era adolescente”. Recomenda “Silêncio na era do ruído”, “Sahara” e “Não se encontra o que se procura” de Miguel Sousa Tavares. Os livros da Rita Ferro, do Miguel Esteves Cardoso, a poesia de Agustina e o seu autor fetiche, Pedro Paixão.

Sofia Costa Lima, ler todos os livros e em todos os formatos

“Quando falam em viciados em livros acho que, em parte, devem estar a falar de mim”

A Sofia escreve no blog A Sofia World e acha que ler serve para coisas tão diferentes como descontrair, aprender e “até mesmo desligar da realidade e entrar noutro mundo.Permite espreitar outras vidas ou ganhar consciência sobre assuntos com quais nem sempre temos contacto.”

A Sofia lê muito em formato digital e por isso acaba por ser simples andar sempre com um livro para todo o lado. Também é garantido que vai ler antes de dormir. “É menos um episódio de uma série ou uns scrolls no instagram”

As sugestões da Sofia abrangem todos os géneros porque nisto de escolher um livro não há preconceitos: “A grande magia” de Elizabeth Gilbert. “13 segundos” de Bel Rodrigues. “Just Listen” de Sarah Dessen. “Mil vezes adeus” de John Green. “O que fica somos nós” de Jill Santopolo. “Eleanor & Park” de Rainbow Rowell. “Love, Simon” de Becky Albertalli. “A todos os rapazes que amei” de Jenny Han (falei-vos desta história mas em formato de filme, neste post)

Mas a Sofia bate records na leitura e continua as suas sugestões com “Anna e o beijo francês” de Stephani Perkins. “Breve história de quase tudo”, de Bill Bryson. “101 erros de português que acabam com a sua reputação” de Elsa Fernandes. “1Q48” de Haruki Murakami. “Crónica dos bons malandros” de Mário Zambujal. “Passaporte para o céu” de Paulo Moura. “A causa das coisas” e o “O amor é fodido” de Miguel Esteves Cardoso. “Uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer” de David Foster Wallace. “A sombra do vento” de Záfon. “Crónica de uma morte anunciada” de Garcia Marques e o “Grande Gatsby” de F.Scott Fitzgerald (também já vos falei deste em formato filme, aqui)

Agradeço muito a estas quatro magníficas, que têm sempre boas sugestões de bons livros, por terem participado neste post. No fundo, falta sempre algum na nossa estante. Eu quando falo com elas acho que me faltam milhares.