Surfistas, sem preocupações
Eu tenho um sonho. Viver pelo mundo. Quem não terá este sonho? Será errado ter o mesmo desejo de muita gente? Acho que não. Mas há uma particularidade neste meu sonho. Viver a viajar, numa caravana. Como os surfistas, sem preocupações.
O que é isso de ter um sonho? É ter um desejo. Uma vontade mais além. Uma força íntima. Mas que ao mesmo tempo consideramos um bocadinho impossível. Eu sei que um sonho não precisa de ser exatamente impossível. Não precisam de me dizer. Mas neste caso, bom, eu adoro o mar, mas nunca aprendi a fazer surf.
Sei quando é que este desejo íntimo me apareceu. Sei como, quando e porquê. Sei perfeitamente como tudo isto começou. Estava de férias. Na Costa Vicentina. A acampar com amigos. Nessa altura vivíamos em casa dos pais. Decidíamos tudo de um dia par ao outro. Olhávamos para a meteorologia e íamos para onde estava sol. Fazíamos e desfazíamos a tenda onde dormíamos inúmeras vezes. Íamos para onde queríamos ir. Uma vez, vimos numa praia vazia, uns quantos surfistas no mar. Estava nublado. Ninguém no areal. Só nós, num miradouro, a admirar o cenário e eles já em baixo. Onda após onda. Caiam. Levantavam-se. Continuavam. Naquele momento, pouco lhes importava tudo o resto. A minha amiga Ana disse-me “já viste, o que é viver assim? Devíamos era ser surfistas, sem preocupações”.
Podíamos ser todos um bocadinho o que eu acho que os surfistas são
Toda a gente tem preocupações. Responsabilidades. Uns mais que outros. Pois isso é certo. Uns resolvem os seus problemas, outros não. Mas naquela altura achamos perfeitamente natural pensar que os surfistas viviam a vida sem preocupações. De onda em onda. Dentro de uma caravana. À procura do sítio onde pudessem ser mais felizes. Buscando o dia em que encontrassem a onda perfeita que lhes transformasse a vida. Que lhes desse felicidade máxima. Tranquilidade, alegria, realização. Eles têm um sonho. E literalmente andam atrás dele.
Nós achávamos fascinante levar a vida com a casa dentro de quatro rodas. Ainda achamos. Já passaram alguns anos. Continuamos a dizer que esse é o nosso sonho. Mesmo que seja fruto da nossa cabeça, por agora. Continuamos a dizer, hoje, que um dia, partimos.
A vida dos outros é sempre um pedaço perfeito na nossa imaginação. Ah, os surfistas sem preocupações. Acordam numa cidade diferente de tempos a tempos. Escolhem destinos de viagens pelas ondas do mar. Não passam a roupa a ferro. Abrem uma lata de atum e metem no prato. Tem espírito livre, aberto disponível. Pensam fora da caixa. Alegres, desejosos e ávidos de aventura. Lá vão eles desenrascados, descomplicados, sem dramas. É assim que os imagino, a eles, aos surfistas. Um dia ainda vamos na caravana. Sem preocupações. Mesmo que ainda não tenhamos aprendido a surfar.
Green
Acho que o que nos falta é a coragem de ir, pensamos demasiado e queremos tudo certinho e direitinho, porque temos de ter X para podermos comprar uma casa, porque temos de ter X+Y para podermos passar férias, porque temos de ter X + Y + Z para podermos ter filhos, quando na realidade nós é que complicamos tudo.
Ter uma vida mais ao estilo surfista é o que faz falta a muita gente, eu incluída 🙂
Andreia Moita
Concordo muito contigo. Pensamos demasiado. Em todos os pormenores, em todos os factores e nos “e se” da vida. Contra mim falo também!
Filipe Parreira
A Costa Vicentina é realmente um lugar encantador que nos leva para lá dos sonhos, com asas para voar em liberdade pelo mundo fora, sem preocupaçãos e sem amarras. Tal e qual como são os surfistas nas ondas da felicidade.
Andreia Moita
Bonito comentário, muito obrigada. A terra dos sonhos podia ser lá, na Costa Vicentina.
Palavra-padrão
Percebo bem esse sonho. Também eu o trago comigo desde bem nova… e a Costa Vicentina também teve esse efeito em mim, o de me aguçar a imaginação de itinerante… Mas talvez seja mesmo uma questão de perspectiva. Talvez aqueles que nós imaginamos como livres, pensem que nós não temos preocupações…talvez eles pensem: “olha só para eles, com uma casa, uma família acolhedora, sempre a saber que pelo menos no dia seguinte têm alguma estabilidade, algum conforto…” Sei lá, às vezes é uma questão de olhar com outros olhos 🙂 No fundo, todos temos preocupações e todos temos sonhos…o importante é aprendermos a andar no limbo de uns e outros ^_^
Andreia Moita
“Todos temos preocupações e todos temos sonhos” – tens toda a razão. Cabe-nos olhar mais para os sonhos e fazer desaparecer as preocupações. Não é fácil, mas se talvez com a mente de surfista (aquela que eu imagino) cheguemos lá.
Beijinho
Inês Mota
Experimentei surfar duas vezes e concluí que não era para mim x)
Quero conhecer o mundo e talvez viver fora. São duas coisas que me fazem salivar por viver. Não sei se com a mentalidade de um surfista, mas definitivamente disposta a retirar tudo o que destas experiências houver para me enriquecer por dentro. Para me tornar numa pessoa melhor, mais interessante, mais interessada, mais vivida. Engraçado que todos os lugares da minha vida ficam a 15 minutos do mar. Talvez seja mais ‘surfista’ do que julgo 😉
Andreia Moita
Nunca experimentei. Mas mantenho este desejo de conhecer o mundo com a casa às costas.
Se o mar puder estar dentro desse sonhos melhor ainda. Secalhar temos todos um bocadinho de surfistas dentro de nós, mesmo sem saber usar uma prancha!
Um beijinho Inês e obrigada pela visita.