A gorda não és tu, sou eu
O problema não são as nossas amigas, somos nós. É tipo a conversa dos maridos das outras. (Eles, os outros, são sempre fantásticos) As nossas amigas estão sempre óptimas, não precisam de dietas para nada. Estão impecáveis. As gordas não são elas, somos nós. A gorda não é ela, sou eu.
A questão é a seguinte: alguma vez alguém viu uma pessoa a dizer sobre si própria que está aí para as curvas e que a amiga é que está mesmo a precisar de um detox básico? Não, né? Nós próprias é que estamos mal, todo o universo está esbelto e esplendoroso. Alguém alguma vez já se viu ao espelho e se achou a última coca-cola do deserto? Alguém já se viu ao espelho e não viu nenhuma imperfeição? Um papo, uma ruga, um cabelo branco?
A conversa vai ser sempre eu a dizer que tenho um pneu no lugar da barriga e que a minha amiga está toda enxuta. E ela vai responder “tu está masé caladinha. Já viste o meu rabo com este tamanho que parecem dois?” E há sempre a hipótese de existir uma terceira amiga, gira nas horas, que obviamente vai dizer alguma coisa do tipo “vocês tenham juízo, vocês sabem lá o que é viver com esta celulite…” E assim sucessivamente, vão chegando amigas à conversa (que isto quando se junta mulherio e dieta na mesma frase, elas surgem das catacumbas) que serão sempre, elas próprias, “a mais gorda”.
Eu é que sou a mais gorda
Será sempre assim. Levam as marmitas para o trabalho com coisas do saudável e depois atacam bolo de chocolate ao lanche. E volta a conversa. “Ai, eu não posso, se não vou para a praia de fato de mergulho este ano.” E a outra magra responde “Não sejas parva, tu podes eu é que não”.
Percebem o que eu quero dizer? Percebem quão esquizofrênico isto pode tornar-se? Percebem a visão distorcida que temos de nós? Percebem que a forma como olham para nós é distinta da forma como nos vemos? E por consequência a visão que temos dos outros é que eles são sempre mais perfeitos do que nós? Entramos numa espiral do “não, não eu é que sou a mais gorda, “não, não eu é que sou.” Ah, chatas. Quem diz é quem é. As mulheres juntas são piores do que os namorados a desligar o telefone “não, amor, desliga tu”, “não querida, desliga tu primeiro”.
E assim continuamos TODAS a pensar da mesma maneira e a dizer mal das nossas gorduras, que mais ninguém vê, só nós. É que elas além de magras são vesgas. As minhas ricas amigas? Elas estão óptimas, obrigada, mas são umas falsas incapazes de ver que eu estou gorda. Eu que não me ponha a pau com as bolachas, não. Ah já sei. Vou levar para elas comerem. É melhor. Elas podem. Eu é que não.
Green
Ahahahah, o que me ri a ler isto, é que é tal e qual.
Andreia Morais
O problema está sempre em nós. E, de tanto o dizermos, acabamos por cegar com essa realidade. Sermos críticos connosco, com o intuito de sermos a nossa melhor versão e de nos cuidarmos, pode ser saudável, desde que não entremos nesta espiral esquizofrénica. Porque os outros também terão os nossos problemas, os seus defeitos, os seus aspetos a melhorar. Seguirmos esta constante onda de comparação, diminuindo-nos e exaltando o outro, só nos prejudica e atrasa!
Vânia Duarte
é a velha história de sermos as nossas maiores bullys não é? Se escrevessemos numa folha as coisas que dizemos de nós proprias e depois pegassemos num telefone e ligássemos para a nossa mãe ou amiga para lhe dizer as mesmas coisas talvez conseguissemos entender a dor que infligimos a nós próprias com o impacto das palavars.
Andreia Moita
Sim, os nossos maiores obstáculos estão em nós e nas vezes que não nos olhamos como deve ser. E isto é válido para o corpo e para a mente!