não consigo

A minha primeira reação a qualquer coisa nesta vida é dizer que não consigo. Eu ainda nem tentei. Nem sequer pensei sobre o assunto já estou com o “não consigo” na boca.

É que é uma coisa realmente que devia ser estudada. Tenho defeitos piores. É um facto. Mas dizer que não consigo torna-se quase uma mania irritante. Como se fosse mais vício que outra coisa. Principalmente quando vem acompanhado de um pessimismo insano que me transforma numa pessoa negativa e insegura. Coisa que eu não quero ser.

Porque raio acho sempre que não consigo?

Prometi algures num destes anos que passou ao comer as passas que ia ser mais optimista e positiva. Mas se fosse mais equilibrada já me bastaria. Estou cansada de pensar instintivamente que não sou capaz de fazer as coisas. E isto reflete-se de uma forma profundamente inconsciente. Porque, caraças, eu sou dotada de muitas coisas boas e positivas que me fazem ser ter capacidades para fazer o que eu quiser e eu sei isso (leiam este post sobre confiança). Eu não sou burra. Não sou inconsciente e para melhorar conheço-me bem.

Acredito inclusivamente que temos muito mais força do que pensamos e que ela só se revela na totalidade na altura que é necessária de ser usada. Podemos dizer que nunca seriamos capazes de fazer qualquer coisa e quando chega a hora fazemos. Mas então se eu sei isto com toda esta brilhante lucidez e inteligência porque raio é que o primeiro pensamento que tenho em qualquer situação desta vida é que não consigo?

A história verídica onde a teimosia ganhou à auto-sabotagem

Estava no ginásio numa daquelas aulas em que fazemos os mesmos movimentos que os professores. Levanta a perna, agora estica, insiste…essas coisas que vocês sabem. A instrutora a dada altura diz para colocarmos nas pernas o dobro do peso que costumamos usar. Imediatamente eu penso que não o vou fazer. Mas é que é logo. Não lhe dou o benefício da dúvida. Nem a ela nem a mim. E nisto toda a gente vai buscar mais pesos para acrescentar. “Por amor de deus”, penso eu. “Mas que carneirinhos. Fazem tudo o que ela diz. Ela nem sabe quanto peso é que eu costumo usar. Além disso, não vou conseguir como é óbvio.”

Experimentei. Acrescentei o peso. Mexi a perna. Tirei os pesos. Claro que não ia conseguir sequer elevar a perna um milimetro do chão que fosse. Voltei a por. Que chata! É difícil ser Andreia Moita, eu não vos digo? Decidir entre ser a única na sala que não segue multidões e lutar contra a frase que insistem na minha cabeça a dizer que não consigo era tudo o que me passava na cabeça naquele momento. Eu tinha ido fazer juz à operação verão e estava com problemas existenciais.

Mais do que ser indecisa. Mais do que ser do insegura. Eu sou do contra. E nesse caso quis mais ainda do que contrariar toda aquela gente. Quis contrariar-me a mim mesma. Voltei a por o raio dos pesos nas pernas com o dobro do normal, tal como a instrutora tinha dito. Tal como toda a gente estava a fazer. E absolutamente contra a minha vontade.

E então, conclusão… o que é que aconteceu?

Consegui. Pois, claro! Bem feita para aprenderes a não duvidar das tuas capacidades. Mas estão a ver todo o drama que se colocou na minha cabeça durante aquela aula de trinta minutos cujo único objectivo era tonificar as pernas e os glúteos? Sai de lá com o cérebro mais trabalhado do que qualquer outra parte do corpo. Porque percebi que não ia fazer um exercício porque simplesmente achava que não conseguia. E faço isto constantemente na vida sem me aperceber de certeza. Deixo de fazer coisas porque acho que não consigo. É impressionante!

Quem mais tem este problema de se sabotar a si próprio com inseguranças e incertezas deste género? Quem é que se vê à luta com um não consigo? Eu hoje ganhei-lhe por ser teimosa e e vocês costumam ter noção das vossas fraquezas nesse exacto momento? Ah, desenganem-se se achavam que eu estava a falar de colocar dez quilos em cada perna e por isso é que estava com esta fita toda. Estamos simplesmente a falar de dois quilos. Sou a rainha do drama. Mas, para que fique claro, consegui.