A história da Júlia

Ando com algumas saudades dos workshops de escrita criativa da Rita da Nova e portanto para recordar hoje vou contar-vos um bocadinho aquilo que é a história da Júlia, um dos meus textos preferidos que lá escrevi.

No workshop de escrita de personagens calhou-me um menina pequena, loira de olhos felizes. O objectivo, durante esse dia de escrita, era dar forma a uma personagem. Dar-lhe uma vida. Arranjar-lhe personalidade. Inventar um passado. Criar objectivos. Desenvolver de raiz uma pessoa e a sua história não é fácil, porque temos de deixar de lado tudo o que somos e ser outra pessoa.

Qual é a história da Júlia?

Chamei Júlia à minha personagem. E criei na minha cabeça a história dela. Escrevi durante todo o workshop como se fosse uma criança. É uma linguagem diferente. Uma forma de escrever, falar e pensar a que não estou habituada. O desafio era esse mesmo.

A Júlia gostava de desenhar. Era o seu passatempo preferido. Era uma miúda sossegada e extremamente inteligente, capaz de conversas bastante adultas apesar de manter na sua expressão toda a inocência e riqueza de uma criança. A história da Júlia é fácil de contar. Gosta de cor de rosa e amarelo. Chama a mãe quando precisa de ajuda para vestir e o pai quando não consegue desenhar alguma coisa. A Júlia tem muita imaginação. É focada e forte. Inventa palavras, fala muito rápido e tem um raciocínio demasiado lógico para os seus cinco anos.

Este é o diálogo entre mim e a Júlia que escrevi no workshop há uns meses atrás:

_ Então Júlia, conta-me lá, o que é que queres ser quando fores grande?

_ Eu quero desenhar as casas.

_ As casas? A tua ou a das outras pessoas?

_ Todas. Com jardim!

_ Então queres ser arquitecta, é isso?

_ Arquitetra?

_ Não é arquitetra. É arquitecta que se diz.

_ Tá bem. Posso ser isso. E tu o que queres ser?

_ Oh Júlia, eu já sou grande, Eu já tenho uma profissão.

_ Ai é? E gostas?

_ Às vezes.

_ Mas não temos de gostar da nossa profissão?

_ Seria melhor que sim. Mais fácil. Mas às vezes não gostamos.

_ Então vai fazer outra coisa. Não vais porquê? Queres pintar comigo? Eu ensino-te. Gostas de fazer desenhos, não gostas?

É fácil falar com a Júlia

Foi fácil criar a Júlia. E falar como ela. E falar por ela. E falar com ela. A Júlia é surpreendente. Será que a personagem que eu criei me pode ensinar coisas?

Gostaram deste post? Gostariam que publicasse mais textos que escrevi nos workshops de escrita criativa da Rita?