Número 13 da casa salmão | História fotográfica
“No número 13 da casa salmão, no número 13 da casa salmão”. Samuel, repetia baixinho o que Salomé lhe disse no dia anterior. Ela esperaria por ele, ali mesmo na porta. Foi o que lhe disse ao ouvido quando ele lhe perguntou onde morava para a ir buscar.
A espera de Salomé a porta do número 13 da rua salmão
Salomé esperou. Diante do número 13 da rua salmão. Tal como eles tinham combinado. Durante muito tempo não se moveu dali. Quantas vezes ficamos à espera de alguma coisa que sabemos que não vem? Quantas vezes esperamos que aconteçam as coisas que desejamos sem nada fazermos para que se realizem? Quantas vezes já ficamos, todos nós, à porta do número 13 da rua salmão?
E depois fartamo-nos. Num impulso abrimos a porta e saímos. Cansamo-nos de esperar por alguma coisa que não acontece, vamos lá e fazemos.
Samuel não apareceu. Nem naquele dia. Nem em nenhum dos outros. E Salomé saiu decidida a procurar o que queria encontrar.
O desencontro
Samuel jamais esquecera o dia em que chegou à porta dela. Ela já não estava. Ter-se-ia esquecido ele do dia? Não teria sido claro na sua intenção de a ir buscar? Juntos iam fugir. Teriam a vida que tinham planeado entre sussurros ao ouvido um do outro. Mas ela já não estava.
As portas tal como as janelas pareciam agora fechadas. Poucas vezes se via alguém. Tantos anos de histórias. O que era hoje feito daquela casa? Que pessoas tomaram o seu lugar? Que novas vidas a habitam? Será que alguém encontrou alguma vez o que procurava no número 13 da casa salmão?
Uma criança à janela
Uma criança que quer espreitar para dentro das janelas. Saber o que se passa lá dentro. Não queremos todos? Não temos todos uma pontada de curiosidade de saber o que se passa depois das portadas de uma casa que não é a nossa? Saber de que cor se pintam as paredes. Saber se lá vivem pessoas alegres e felizes ou solitárias e com saudade. Querer saber como são as outras vidas, para lá das janelas, é como querer saber o que se passa dentro da cabeça de alguém. Não é?
Porque é que a Salomé não esperou. Ou porque é que o Samuel não apareceu?
“Sara vem para dentro!” – A mãe chamou. Não gostava que ela olhasse pelas janelas. Puxou-a pelo braço e esbarrou na senhora mais velha que vinha distraída. O saco das compras que carregava deixou-se escorregar. Laranjas rebolavam pelo chão, agora. Do outro lado da rua um jardineiro assistia. Num impulso dirigiu-se à velha senhora. Recolheu-lhe a fruta caída e meteu conversa com ela. “A senhora não é de cá.” “Eu sou. Bem, quer dizer, não fui durante muito tempo. Está tão diferente. A rua. As cores. E esta frase que antes não estava aqui!”.
“Ah, isso. Está ai há muitos anos. Uma vez procurei o número 13 da rua salmão dias sem fim. Quando encontrei não estava ninguém à minha espera”.
A mãe puxava Sara para dentro de casa. “Adeus senhor Samuel!”, gritou. A velha senhora sentiu a cara ficar da cor daquela casa. Não seria possível.
“Ainda não lhe agradeci a ajuda com os sacos. E nem me apresentei.” Estendeu lhe a mão. “Prazer, o meu nome é Salomé.”
***
As fotografias que serviram de inspiração a este texto são da autoria da Irina Daniela que me desafiou a dar histórias às imagens dela. A Irina faz um trabalho espetacular de fotografia de rua. Sei que quem é apaixonado por portas, janelas e histórias vai gostar muito de seguir o instagram dela.
O que aconteceu ao Samuel e à Salomé? Ainda não sei. Mas sei que quando serenamos, encontramos o que procuramos.
Green
Gostei imenso da tua história, parabéns 🙂
Andreia Moita
Muito obrigada!
PATRICIA SOUZA DA SILVA
Gostei do texto. Muito criativo. Parabéns!
Andreia Moita
Obrigada 🙂