bacalhau com brôa

Lembram-se do projeto Páginas Salteadas? Como não? Livros e comida únidos na mesma história. Mantive este projeto com as minhas companheiras durante dois anos. Parou no início de 2020 e agora vai regressar. Mas com surpresas. Eu vou-vos elucidar daquilo que falo apresentando-vos já a primeira receita do ano – Bacalhau com brôa – inspirada no livro “Cem anos de solidão.

O que é o projeto Páginas Salteadas?

Em Julho de 2017, num piquenique, eu a Joana Clara, a Vânia Duarte e a Catarina Alves de Sousa decidimos o nome que dariamos ao projeto que andavamos a desenvolver. Eu tinha-as conhecido há pouco tempo, no Bloggers Camp, mas identifiquei-me instanteamente com a criatividade e energia delas. Por isso, mesmo sem as conhecer a fundo, sentia uma grande conexão com elas. E logo eu que não sou nada dessas coisas.

Ávidas leitoras, curiosas na cozinha, originais a inventar e motivadas pela criação de algo algo diferente resolvemos combinar os livros com a comida. Durante esses anos lemos um livro igual em cada mês e depois cada uma de nós fazia uma receita que resultava daquilo que tinhamos achado da leitura.

Alguns exemplos:

  • Lemos “Lá, onde o vento chora” e senti naquele livro que Kya precisava de alguma comida de conforto. Tentei fazê-lo com o único ingrediente que ela comprava na história, porque não tinha dinheiro para mais. Representei este livro com umas papas de aveia.
  • Lemos “O Diário de Anne Frank“. Na verdade foi uma releitura para todas. O meu ímpeto foi fazer uma sopa quentinha.
  • Lemos “Eleanor & Park” e fiz uns brigadeiros de chocolate porque achei que viver um amor adolescente da maneira como eles o fizeram merecia um docinho.

E foi assim durante muito tempo. Comemoramos um ano, na Academia às 9, com algumas das receitas que mais gostámos e com convidados para nos fazer companhia.

Páginas Salteadas o que mudou?

Tchan tchan tchan… Então o que vai mudar depois da pausa que fizemos em 2020? Sempre quis fazer este tipo de suspense. Mas não vai ser agora. As surpresas estão já aqui:

  • 1. O Páginas Salteadas vai estar aberto a toda a gente. Sim, não seremos só nós as quatro a ler e a cozinhar. Queremos desafiar-vos a fazê-lo também.
  • 2. Não teremos um livro por mês para toda a gente, como tínhamos para nós as quatro. Consideramos que isso seria impor algum tipo de limite ou obrigação e não queremos isso para nós nem para vocês.
  • 3. Vamos atribuir um ingrediente a cada mês. O desafio é ler um livro que vos remeta a esse ingrediente de alguma forma (através de uma sensação, um cheiro, uma memória, uma analogia, um sentimento, um título, o que for) e fazer uma receita com ele. Podem procurar um livro com esse objetivo ou estar a ler aleatóriamente e de repetende surgir-vos algo na história que associem ao ingrediente que escolhemos e daí partem para a receita.
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Portanto, invertemos a situação. Se antes tinhamos um livro e cozinhavamos sobre ele. Agora teremos um ingrediente e leremos sobre ele. Se antes ficávamos curiosas umas com as outras com as receitas que iam surgir do mesmo livro, agora vamos ficar ansiosas para saber não só a receita, como o livro também! Alinham connosco?

Já definimos a lista para o ano inteiro e deixamos em jeito de desafio literário para que todos se juntem a nós mencionando a #paginassalteadas para que possamos todos acompanhar as receitas com o ingrediente do mês e o livro que vocês escolheram.

Em Janeiro o ingrediente que eu escolhi foi o pão e o livro “Cem anos de solidão”

Para começar, em Janeiro já que o tema era livre eu escolhi o ingrediente: pão. Eu li “Cem anos de solidão” este mês e consigo perfeitamente imaginar os Buendia (cheios de Aurelianos e Arcadios) à mesa a comer pão. Mais propriamente incorporado na minha receita: bacalhau com brôa. Além disso relaciono porque pão não é uma comida da moda. É uma comida de sempre. Não tem cem anos. Tem mais.

Review de “Cem anos de Solidão”

Parti para esta leitura a medo. Esteve muito tempo na minha estante parado à espera que eu me largasse de preconceitos e afinal deu-me uma chapada de luva branca. Fiquei bastante surpreendida pela positiva. A história mostra-nos uma família desde os seus primórdios até ao último descendente. Não vou falar da sinopse porque eu mesma não sabia nada acerca desta história antes de partir para ela e acho que a magia reside também ai. Nunca tinha lido nada assim. É de uma originalidade e criatividade que roça a genealidade.

Pode ser um pouco confuso ou denso em determinadas alturas porque os nomes das pessoas são iguais, mas para isso existe uma árvore genealógica e uma escrita muito cativante para ajudar. Fiquei fascinada com a forma de escrever de Gabriel Garcia Marquez. Limpa, lúcida, fácil e extremamente envolvente.

Gostei muito da história. Creio que posso não me lembrar de alguns pormenores daqui a uns tempos, mas saberei com certeza falar da família que viveu em solidão por mais de cem anos cujo último de seu nome morreu da única forma que fazia sentido desenhando um círculo perfeito para fechar esta história. Leiam, vale a pena.

Receita de Bacalhau com Brôa

Ingredientes:

  • 4 postas de bacalhau
  • grelos
  • bróculos
  • 4 ovos
  • alhos
  • brôa (o ingrediente do mês)
  • azeite

Meter o bacalhau a cozer juntamente com os ovos. Escaldar os grelos e os brócolos para depois os adicionar aos alhos já num tacho a dourar em azeite. Saltear os verdes.

Desfiar o bacalhau e colocar num tabuleiro. Em cima coloca uma camada de ovos cozidos às rodelas. De seguida formar outra camada com os grelos e os bróculos. Finalizar com pedaços de brôa esfarelados grosseiramente à mão e deixar cair um fio de azeite por cima. Levar ao forno até dourar/torrar o pão, afinal ele é o nosso ingrediente estrela.

 

Espero que gostem. Da receita de bacalhau com brôa, do livro “Cem anos de solidão”, da analogia que fiz entre ambos e sobretudo do regresso do projeto Páginas Salteadas reinventado e aberto a todos. Juntem-se a nós, nos vossos blogs ou redes sociais e marquem a #paginassalteadas para que possamos ver e partilhar as receitas/livros uns dos outros.