A Nova Índia

Desde Setembro, altura em que li “A Terceira Índia“, que estava à espera do seu desfecho. Porque um livro cujas últimas palavras são “e agora?” é coisa para dar comigo em doida. Fiquei rendida à história que a Sofia protagoniza juntamente com o Ricardo e o Alex. Durante estes seis meses quis saber afinal que decisão iria tomar a Sofia (ou a Sofi) e o que ia acontecer com a tão esperada gravidez. Isto não é uma review, é uma opinião do livro “A Nova Índia” e já vão perceber porque digo isto.

É muito difícil falar de um livro do qual gostamos muito sem deixar escapar uma opinião sobre as coisas que acontecem e portanto posso incorrer no “crime” de me entusiasmar e falar demasiado. Sendo uma continuação de um livro do qual gostei tanto sinto mais necessidade de opinar sobre as situações, nomeadamente sobre o desfecho.

Portanto, sabem os rótulos dos alimentos que dizem “pode conter vestígios de amendoim?” Faço o mesmo. Tentarei ser prudente, mas chamo a este post não uma review e sim uma opinião literária porque pode conter vestígios de spoilers. A partir daqui, se ainda não leram este livro ou o primeiro “A Terceira Índia” é por vossa conta e risco (imaginar aqui uma piscadela de olho minha e bastantes alarmes a tocar!)

Como disse acerca do livro anterior, esta história teve a capacidade de me deixar a pensar nas personagens durante muito tempo após ter fechado o livro. Eu não sei porquê. Não há nenhuma situação do livro pela qual já tenha passado (até hoje e que eu saiba, claro!) Logo, à partida não teria motivos para me identificar com nenhum deles. E, no entanto, adoro esta história. Aconselho a toda a gente porque a acho absolutamente realista e puramente genuína.

Em que ponto está a história quando pegamos neste livro?

Sofia viajou para Moçambique para dar aulas após ter assinado um acordo de divórcio do marido que a traiu. Ela tem endometriose, causa da sua infertilidade. Ricardo não aceitava usar os óvulos de uma dadora para gerar o seu filho e o casamento estava em colisão quando Sofia descobriu a traição.

Em Moçambique conhece Alex, um “matulão” cheio de força cujo coração se derrete com ela e com uma história de vida marcada por um grande sofrimento. Ambos tentam sarar as suas feridas juntos. No meio de tudo isto Sofia e Alex veem-se envolvidos num esquema de tráfico humano onde conhecem as forças e fraquezas de cada um.

Contra todas as probabilidades Sofia engravida de Alex e não lhe conta porque sabe que ele não deseja ser pai. Regressa a Portugal sabendo que ainda continua casada com Ricardo, que afinal não entregou os papéis do divórcio, porque ainda gosta dela. Grávida de um e casada com outro, o que irá Sofia fazer? Como irá Ricardo reagir quando souber que afinal Sofia vai conseguir ter um filho mas que não é dele? E Alex, que confiou os seus segredos a Sofia e achava que ela era uma divórciada que não podia ter filhos, o que fará?

“A Nova Índia” e as escolhas de cada um dos personagens

Quando comecei a ler “A Nova Índia” percebi uma coisa que ainda não tinha dado conta. Afinal, isto não era só sobre as escolhas da Sofia. Era sobre as escolhas da Sofia, as escolhas do Ricardo e as escolhas do Alex. Porque eles os dois tornaram-se tão importantes quanto ela, pelo menos para mim.

A escolha da Sofia era a que eu esperava que acontecesse. Não era uma escolha nada fácil, mas, conhecendo-a como conheço, não me surpreendeu. E pode não ser a mais consensual, mas com certeza é a que a fará mais feliz porque me pareceu que ela nem duvidou. Creio até que ela decidiu assim que aterrou em Portugal. (Estou mesmo a falar de uma personagem e não de uma pessoa? Parece que sou uma amiga dela e que a conheço desde miúda!)

A escolha do Ricardo também me passou pela cabeça. Acreditei que ele o pudesse fazer. Mas a escolha do Alex não. Não estava à espera e foi a que me deixou realmente mais triste. Embora possa ter sido uma escolha influenciada, pelas escolhas tanto do Ricardo como da Sofia, ele tomou essa decisão independetemente disso e em consciência. E não acho a escolha certa nem justa para ele.

Acho que tudo poderia ter terminado exatamente da maneira como terminou, mas com um final diferente para o Alex. Ele acaba por ser um herói que tem um lugar secundário e merecia um lugar de destaque, do qual infelizmente abdicou.

Uma história real que podia ser de qualquer um de nós

A mais valia de “A Nova Índia” é o o seu realismo. Tanto que eu escrevo este texto como se conhecesse estas “pessoas”. Há aqui questões reais e que nos fazem ficar a pensar “caraças, e se fosse comigo? E fosse eu que estivesse no lugar do Alex, do Ricardo ou da Sofia? O que faria eu? O que escolheria eu?“. É que temos aqui os vários lados da mesma problemática. E é sempre muito fácil falar. E criticar as decisões dos outros. Mas quando nos toca a nós provavelmente escolheriamos o que dizemos para os outros não escolherem. É mais ou menos “faz o que eu digo e não o que eu faço”.

Muitas foram as vezes em que eu exclamei “que grande lata” perante as atitudes do Ricardo ou “ai, agora já respondes, quando devias ter falado não disseste nada” quando a Sofia decidia ser parva. Eu parecia uma senhora idosa a ver a novela! Irritada com eles! O bom deste livro, e desta história, é a capacidade da Íris Bravo nos “meter” lá dentro daquelas páginas com eles quase a sentir o magnetismo dos olhos verdes do Ricardo, o coração gigante do Alex e a cabeça da Sofia para entender que todos nós tivemos mais dúvidas do que ela na hora de decidir entre eles os dois.

A grandeza deste livro está em nos ter oferecido personagens que podíamos ser nós. Ou os nossos amigos mais próximos, vá. Além de trazer temas como o tráfico humano, a infertilidade ou o luto, traz-nos dilemas da vida comum, através de uma escrita fluída, natural e sensível que tanto queremos devorar como percorrer devagarinho. Curiosa e impaciente como sou escolhi a primeira opção, claro está.

Sobre escrever com ou sem spoilers

Sendo a continuação e o desfecho de “A Terceira Índia” tornava-se difícil escrever elogiando a trama porque já o tinha feito na review anterior. É realmente difícil falar de “A Nova Índia” sem ser spoiler porque uma pessoa precisa desabafar (percebem?!) mas ao mesmo tempo não quer estragar a experiência de leitura a ninguém.

Então tentei não roubar a essência da história despertando-vos para a sua leitura, mas sei que posso ter cometido inconfidências nas entrelinhas. Foi um risco que decidi correr e do qual avisei à partida! Para mim ser leitora é mais do que terminar um livro e guardá-lo na estante. É também conversar um bocadinho sobre o livro.

Se chegaram até ao fim é porque leram o livro (ou não ligam a avisos de spoilers) e assim sendo podem conversar comigo nos comentários. Estou ansiosa.