“O menino de Cabul” | Review
“O menino de Cabul” é uma história angustiante e essencialmente sobre culpa. Penso que não é possível ficarmos indiferentes ao que lemos aqui. É uma história dura, infeliz e amarga. E parece-me tão estranho dizer que um livro tão triste foi delicioso. E que gostei muito. Parece que não é natural dizer que uma coisa triste possa ser tão boa. Mas a verdade é que gostei muito deste livro.
Penso que já disse isto quando falei aqui sobre filmes tristes. A mente humana parece que tem um gatilho que desperta com tristezas. Somos atingidos de forma esmagadora quando assistimos a maldades, injustiças ou qualquer situação angustiante. Quando as vemos através de histórias, ou seja, onde nada pudemos fazer, parece que só queremos tapar os olhos com as mãos porém continuamos a espreitar entre os dedos, parece que tudo é mais difícil ainda.
As histórias tristes acompanham-nos. Fazem-nos pensar. A história de Amir e Hassan, além de ser altamente pesada, é sobre duas crianças e isso dificulta mais ainda as coisas.
“O menino de Cabul”
Amir e Hassan são amigos desde pequenos. Só que um pertence a uma casta e outro é o empregado. Apesar disso, o pai de Amir sempre tratou Hassan e o seu pai como pessoas da família. Ao contrário de Amir. Foi algo duro compreender as atitudes dele para com o seu melhor amigo durante a primeira parte do livro. Fui assistindo pasmada tanto à maldade de Amir como à passividade de Hassan. Mas há um dia em que todos os comportamentos culminam num acontecimento que dita o destino de ambos.
“O menino de Cabul” é uma história triste que nos deixa a pensar em todos os privilégios que temos e na forma como nos servimos deles. Muitas vezes a nossa educação e a nossa sociedade não definem nem afirmam o nosso carácter. Há algo na construção e afirmação da nossa identidade, personalidade e valores que é da nossa responsabilidade.
Numa série de coincidências, que fazem sentido, a vida vai dando as voltas necessárias para colocar o personagem principal frente a frente com as suas questões internas castigando-o ou dando-lhe a redenção, de acordo com as suas escolhas do passado e do presente. Um dia, já adulto, ele volta para um Afeganistão que já não conhece. E aqui entramos noutra fase da história nos leva praticamente à atualidade e a todas as noticias a que assistimos agora nos telejornais e nos contam o que se passa nesse pedaço de mundo, tão injusto.
Os acontecimentos estão muito bem elencados, numa linguagem tão simples e direta que fica fácil perceber o rumo que a história vai tomar, em termos dos segredos e enredo, mas isso não me incomodou minimamente, pelo contrário fez-me todo o sentido que assim fosse.
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