viagem à Lapónia

A viagem à Lapónia estava há muito tempo na minha lista de desejos e ainda há mais no meu imaginário. Acho que sempre me pareceu uma coisa meio inalcançável, sabem? Como se fosse mais longe do que é na realidade ou até como se não existisse e fosse só um lugar que há nas fábulas.

Integrei o grupo de viagem organizado pela Daniela do blog 100 fronteiras e ainda bem que o fiz porque é assim…que viagem! Achei que toda a tour estava organizada com extrema dedicação para colocar sorrisos nas nossas caras. Além do alojamento, pequeno-almoço e jantar, tínhamos incluído: a visita à Santa Claus Village, à quinta de renas e huskies e uma “caçada” às auroras boreais. (Mas vivemos muito mais do que isso – outras atividades que mencionarei aqui foram feitas à parte da tour em grupo na mesma!).

A viagem à Lapónia com um grupo de desconhecidos foi uma experiência dentro da experiência. E por isso merece um post à parte – viajar em grupo –  onde só falo sobre isso. Vocês aguentem-me que eu já estou cá mas ainda estou lá, percebem? Tive muita sorte com o grupo que me calhou. Éramos muito parecidos e queríamos genuinamente que a viagem fosse memorável para todos. Então, além de estarmos completamente alinhados, andámos sempre juntos para todo o lado. Construímos memórias em conjunto das quais ainda me estou a rir até agora.

O que fazer numa viagem à Lapónia?

A Lapónia é uma área do globo que abrange espaços da Noruega, Suécia, Finlândia, Canadá e Rússia, sendo Rovaniemi a sua capital. É aqui que vamos encontrar a residência oficial do pai natal (ele é real, nem venham…). Aliás é natal nas ruas de Rovaniemi o ano inteiro para terem ideia. É uma cidade muito pequenina mas não imaginam o tanto que há para fazer e ver. Estas foram as atividades que fiz e sobre as quais vou falar:

  • Passeio pelo centro da cidade de Rovaniemi
  • Visita à Aldeia do Pai Natal (por onde passa a linha do círculo polar ártico)
  • Visita à quinta de Renas e Huskies
  • Andar de mota de neve
  • Fazer pesca no gelo
  • Caminhada na floresta (até à torre de vigia)
  • Visita ao museu do Ártico
  • “Caça” às auroras boreais
  • Assar marshamallos na fogueira

Centro da cidade de Rovaniemi

Quando aterrei em Rovaniemi e vi o cenário à minha frente fiquei histérica. Mais do que o normal, sim. Não havia um ponto que não estivesse coberto de neve. Sabia lá eu onde começava a estrada e acabava o passeio #viveravidanolimite. Havia carros presos (provavelmente para sempre) debaixo de neve e a criar estalactites. Eu sei que pode ser um cenário bem chato para quem passa por isto todos os dias (como os donos daqueles carros, por exemplo) mas para mim, que sou a miúda do sol e da praia, foi absolutamente lindo.

Passeámos pelos lagos (que são blocos de gelo, naturalmente), vimos um parque dos Angry Birds, a igreja local, apreciamos a arquitetura (que é bem interessante porque eles têm todos varandas fechadas com janelas panorâmicas). Brincámos na neve, porque, enfim, éramos 21 portugueses com dez anos de idade outra vez e estávamos a viajar…entendam…podemos tudo! E depois, claro, à noite, voltávamos a ter mais de 18 anos e fazíamos o reconhecimento aos bares da zona, que fecham demasiado cedo, mas têm karaoke. E não digo mais nada para não entrar em terrenos pantanosos!

Santa Claus Village

É assim…vocês não estão a perceber! Menos sete graus na rua e 21 portugueses a correr para passar a linha do círculo polar ártico em extrema efusividade. Não havia gente mais feliz do que nós naquele dia.

A Santa Claus Village é um complexo grande. Facilmente se passa lá um dia inteiro, até porque esperar para ver as luzes ligadas é muito bonito!

Lá podemos encontrar o posto dos correios onde chegam as cartas dos meninos de todo o mundo, dizendo que, claro, se portaram bem o ano inteiro; a casa do pai natal, onde o próprio se encontra; o gabinete dos elfos; a casa da mãe natal; as renas; os huskies; restaurantes, enfim é mais ou menos a Disney do natal… E há uma série de atividades que se podem fazer (mediante pagamento). Nós, como bons portugueses, ora pois, encontrámos pequenos trenós partidos e abandonados e fizemos “sku” ali mesmo! (Se passarem no meu instagram há vídeos) Porque não dá para continuar a ser adulto dentro deste sítio. Este é um lugar incontornável numa viagem à Lapónia!

Visita à quinta Raitola (Renas e Huskies)

Nós fomos até à quinta Raitola. Sabiam que na Lapónia há mais renas do que pessoas? Pois, é. Muito se aprende aqui! Demos uma volta num “trenó” e fomos puxados pelas renas. Mas olhem confesso que não é muito fixe. Apesar de serem bem tratadas não vejo o propósito de terem de estar ali a passear humanos.

Quantos aos Huskies é diferente porque os cães realmente gostam de correr. Agora…têm tempo para uma história vergonhosa? Claro que têm porque para humilhação alheia toda a gente tem tempo! Vamos lá então: Eu tenho medo de cães, então estive muito caladinha a observar a situação para decidir se ia fazer o passeio em que eles nos puxam. Verifiquei que os cães não se metiam com as pessoas nem sequer saltavam. Eu teria de ir sentada, o Bruno iria em pé a conduzir lá o carrinho e eles puxavam. Decidi ir porque enfim estava numa viagem à Lapónia e não queria perder oportunidades.

O carrinho de trás nunca me alcançaria pois travaria antes e os cães que me puxavam estavam à minha frente e não viriam para trás. Na minha cabeça o plano estava controlado. Mas a pessoa atrás de mim não travou a tempo e os cães dela não pararam atrás de mim, como era suposto, e sim ao meu lado. Os cães nem olharam para mim, mas eu morri um bocadinho e chorei de pânico, incapaz de me mexer. Assim que começou a corrida, passou tudo e eu voltei a ser uma pessoa normal.

Andar de mota de neve

Pára tudo! O que é que foi isto? Que experiência brutal. Eu adorei conduzir a mota de neve. Pode até assustar conduzir por cima de um lago que está congelado, mas eu tenho medo é de cães portanto isso não me fez impressão nenhuma. Diverti-me imenso nesta atividade. Eu nunca tinha conduzido uma mota e estava a andar de mota de neve numa viagem à Lapónia! Nem queria acreditar (inserir emojis de contentamento!)

Pescar no gelo

Para pescar no gelo é preciso paciência, resistência ao frio e uma série de apetrechos. Primeiro, temos de furar o gelo, cerca de um metro, até alcançar a água. Isso faz-se com uma espécie de saca rolhas gigante (percebem?!) que vamos girando e ele vai perfurando. Daqui resulta um pequeno buraco no gelo onde enfiamos uma mini cana e….esperamos. (Não perguntem se apanhámos alguma coisa, está bom?)

O meu forte nunca foi esperar. Como sabem é das coisas para as quais não tenho paciência. Fiquei antes a comer os biscoitos e a beber o sumo quentinho que eles servem, deitada na neve como se estivesse num belo bar de praia.

Esta atividade foi feita em conjunto com a da mota de neve na Safartica. Deram-nos todo o equipamento necessário para parecermos o abominável homem das neves: macacões, botas, meias e luvas. #aquininguemtemfrio

Caminhada na floresta até à torre de vigia

Uhhh, isto dito assim, caminhada na floresta até parece uma coisa obscura. Bom se calhar sou só eu! Adiante. Fizemos a Ounasvaara winter trail e olhem um cenário de cortar a respiração todo o caminho até chegar à Ounasvaara Observation Tower, que é uma torre de vigia que serve de miradouro! E os senhores que lá estavam antes de nós que nos deixaram madeira a arder numa cabana para nos aquecermos? Dá para acreditar? De sonho!

Museu do Ártico (Arktikum)

O centro de Rovaniemi tem alguma oferta cultural. Decidimos visitar o Museu do Ártico que custa 15 euros. Parece caro, mas ficámos agradavelmente surpreendidos com a quantidade de coisas que podemos ver ali. Existem várias salas, cada uma dedicada a um tema: a fauna e a flora, os animais, o clima, os fenómenos naturais (auroras boreais, sol da meia noite, ect) as tradições e histórias. Achei muito giro e recomendo. Estivemos lá umas duas horas e não vimos tudo.

Caça às auroras boreais

Deixei o melhor para o fim, evidentemente. Ninguém esconde que o objetivo primordial desta viagem à Lapónia era conseguir ver as auroras boreais. Incluído no nosso roteiro de viagem de grupo estava uma noite para ir à procura delas. Mas nós aumentamos as probabilidades e decidimos comprar outra oportunidade. #pagueipelaaurora.

“Apanhar” auroras boreais não é certo. É um fenómeno natural. Imaginem a nossa felicidade quando conseguimos assistir à dança das luzes duas noites seguidas. Efetivamente, é uma experiência sem explicação aquilo que vemos acontecer à nossa frente. Eu não parava de me perguntar se era real.

As auroras boreais são uma espécie de luz dançante que pode assumir várias formas como “arcos”, “cortinas” ou “riscos”. Elas acontecem devido ao contacto do vento solar com a atmosfera da terra, o que faz com que vejamos algumas cores no céu escuro (ui, mudámos para o National Geographic?)

Quando dizemos “caçar auroras” isso significa que há alguém experiente que vem connosco fazer vários quilómetros de carro para sítios específicos onde onde é mais provável ver-se o fenómeno. O objetivo da caçada é andar sem parar até encontrar uma!

Curiosidade: As auroras não são vistas pelo olho humano da mesma maneira que são captadas pela lente de uma câmara, por exemplo. Assim, ao contrário daquelas vezes em que dizemos “ah esta fotografia não faz jus a este sítio” as auroras ficam muito mais nítidas e coloridas na fotografia.

Assar marshmallows

Na segunda noite tivemos uma fogueira para assar marshmallos com auroras boreais como pano de fundo. Imaginem!!! Isto pode até parecer ridículo ou insignificante para vocês, mas para mim assar marshmallos é cena de filme. Beber um chá quente e saber que estamos a viver a nossa melhor vida cheios de sorte pelas oportunidades únicas que estamos a ter e por partilharmos este momento uns com os outros.

O que é preciso para ver auroras boreais?

  • Estar no hemisfério norte nos meses de Inverno
  • Ser de noite e estar completamente escuro sem ruído visual. É bastante difícil ver no centro da cidade por exemplo devido à luz das ruas. É por isso que é normal existirem serviços específicos que nos conduzem até locais mais escuros e resguardados.
  • O céu estar limpo. Com céu nublado, as auroras podem até lá estar mas as nuvens não vão deixar os nossos olhos verem
  • Alguma sorte!

O que levar vestido para o frio?

O máximo de frio que apanhei foram -8 graus. Eu não sou muito friorenta, cada um deve fazer a sua gestão, portanto deixo-vos algumas dicas que podem ajudar nesta viagem à Lapónia ou qualquer outro destino parecido. Antes de qualquer roupa coloquem sempre leggings e camisolas térmicas e depois então vistam as calças de neve, camisolas e casaco.

  • Várias camadas de meias (Se possível anti transpirantes)
  • Uma boas botas de caminhada que sejam próprias para andar na neve e impermeáveis (um número a acima por causa da quantidade de meias)
  • Collants ou leggings térmicas
  • Calças de neve
  • Calças impermeáveis
  • Camisolas térmicas
  • Camisolas grossas (algodão ou lã)
  • Casaco de penas e que permita resistir a temperaturas baixas, sempre impermeável (invistam num bom casaco)
  • Luvas (próprias para não se molharem se tocarem na neve) e gorro
  • Nota: as calças de ganga não funcionam no frio!

Andei dias a escrever este post. Não só porque é realmente trabalhoso mas principalmente porque, para mim, escrever o post da viagem é o último momento dela. Enquanto escrevo e escolho as fotos ainda lá estou. Terminar este post significa que a viagem à Lapónia também acabou. E isso é realmente triste. A sorte é que foi para lá de incrível e ganhei imensas pessoas com quem a recordar!