“O fim dos homens” | Book Review
“O fim dos homens” é o mais recente livro que adorei. Tão depressa não me vou esquecer. Podia ser uma distopia se o lêssemos antes de 2020. Trata de um mundo pandémico em que os homens são afetados por um vírus capaz de os matar em 48 horas. Como será o mundo com menos homens? Como funcionará a sociedade?
Da ficção à realidade
Não consegui descansar antes de o terminar. Sobretudo porque não parei de imaginar a sensação da autora, tendo escrito este livro em 2018, ao deparar-se com bocados do que inventou em 2020. Que sentimento avassalador deve ter sentido? E nós leitores, como teria sido ler este livro se fosse apenas um mundo imaginário? É impossível desligarmo-nos daquilo que vivemos nestes últimos dois anos. E por isso “O fim dos homens” é uma experiência de leitura completamente diferente de todas as outras.
O vírus real que atingiu o mundo nos últimos anos foi mortífero e obrigou-nos a isolamento mas não foi tão longe nas consequências que o vírus do livro provocou. No entanto, em alguns aspectos é semelhante tal como na solidão que provou e nas perdas humanas e económicas.
Como será a sociedade com “O fim dos homens?
O tema do livro “O fim dos homens” mostra não só o lado das famílias que se veem separadas pela morte, como consegue explorar e expor vários outros sentimentos e acontecimentos, camada dentro de camada. Adorei refletir sobre todas as temáticas que este livro levanta de forma sublime:
- As mulheres que ficam sozinhas sem maridos e filhos numa angústia profunda.
- A comunidade científica que luta pela descoberta da vacina em tempo recorde
- Os negacionistas que acreditam que é tudo um esquema das mulheres para dominarem o mundo
- A imunidade dos “bandidos” vs a morte dos “bons”
- A culpa, a angústia, o pânico, a depressão, a solidão, a incerteza, a tristeza, o luto, a saudade, a mudança, a adaptação. Tudo numa espécie de crescendo.
- A sociedade que tem que se organizar (garantindo as profissões imprescindíveis – como a recolha do lixo, a manutenção de hospitais e alimentos) e ajustar a novos modelos de família e relacionamentos (como vão nascer pessoas? como se vai repovoar o planeta?).
As personagens
Vamos assistindo à jornada de várias personagens, homens e mulheres, em diversos pontos do mundo:
- A médica que descobriu o paciente zero na Escócia e quem ninguém acreditou.
- A mulher que teve de fazer tratamentos de fertilidade para ter um filho, que agora perdeu. (A Catherine é a minha personalidade preferida, pela honestidade com que relata a angústia que é para ela ver a felicidade de quem tem filhas mulheres – acho-a muito real pois é personificação de pensamentos menos bons que de vez em quando todos temos e tememos expor por serem politicamente menos corretos).
- O homem que está isolado num barco na Islândia.
- A ama de crianças em Singapura que se sente mãe delas.
- O marido que sai de casa para viver os últimos dias de vida em aventura.
- A cientista que descobre a vacina.
Todas estas personagens, e mais algumas, vão-se interligando de alguma forma, o que torna a história ainda mais rica.
A única coisa que tenho a apontar é que os capítulos eram contados na primeira pessoa e apesar das personagens terem personalidades completamente diferente a escrita não era diferenciada, era muito reta em todos os personagens. No entanto, compreendo a necessidade de escrever na primeira pessoa e entendo a forma crua como a história está relatada por cada um dos personagens.
Reflexão e opinião final
Não sinto que “O fim dos homens” esteja a ter o hype que eu acho que merece. A altura do seu lançamento pode ter sido prejudicial. Talvez seja demasiado cedo para algumas pessoas o lerem. Compreendo. As coisas não nos afetam a todos da mesma maneira. Se se sentirem preparados, agora que vos deixei esta review, leiam-no. Na minha opinião é precisamente por saber que foi criado como ficção e se ter tornado, infelizmente, tão próximo à realidade que gostei tanto.
O que vos parece?
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