Livros que se passam em aldeias

Os livros que se passam em aldeias, inventadas ou reais, têm um espírito quentinho. Trazem a cumplicidade dos pequenos lugares, onde todos se conhecem há muitos anos, que dá permissão aos mexericos. Os livros que se passam em aldeias escondem histórias que começam com alguém que viu alguma coisa à janela. Guardam segredos cabeludos que só se desvendam em confissão no leito da morte.
Há sempre um passado escondido e uma família mais abastada. Há sempre os injustiçados e os afortunados. Os que saíram da aldeia e voltaram. A rapariga que engravidou nova e o padre que nem sempre é o mais santo.
Nestas terras as paredes das casas antigas têm sempre ouvidos. Há o café central, as costureiras, os médicos ao domicilio e as parteiras. E há diários guardados debaixo de colchões ou livros de receitas no fundo de baús.
Os livros que se passam em aldeias estão sempre envoltos de uma linguagem simples mas lírica. É quase uma canção. O que ajuda a manter a narrativa clássica e sobretudo intrigante. É muitas vezes esta forma estética de escrever, em que todas as descrições falam connosco, que nos fazem avançar na leitura perfeitamente embalados e esquecidos do tempo, tal como muitas vezes, estas aldeias, também estão.
Livros que se passam em aldeias:
Apercebo-me agora que fiz uma lista de livros que passam em aldeias apenas de escritores portugueses. Isto além de giro é óptimo. As nossas aldeias realmente são inspiradoras.
Onde cantam os grilos, de Maria Isaac: Formiga é uma criança e conta-nos tudo o que ouve atrás das portas da casa onde um dia foi deixado. Por isso, não sabemos as histórias do principio ao fim nem as compreendemos na sua plenitude. Afinal, estamos a ouvir tudo da boca de uma criança.
O que dizer das flores, de Maria Isaac: em Mont-o-Ver há muita gente singular. O padre esconde segredos sobre o grande incêndio, há três irmãs com pouca sorte ao amor e um preso fugiu da prisão. Mas o melhor de tudo é a voz do narrador que conhece todos melhor que ninguém (Não leiam a última frase do livro. Só lá é que se descobre quem é este narrador e é uma surpresa gira!)
O lugar das árvores tristes, de Lénia Rufino: Naquela aldeia do Alentejo ninguém fala da morte da Dona Eulália e reina a famosa e triste frase “o que é que as pessoas vão dizer”. Está classificado como romance mas eu acho que está mais para mistério.
O luto de Elias Gro, de João Tordo: Foi o primeiro livro que li deste autor e o que me fez apaixonar pela sua escrita. Sobre solidão e melancolia numa ilha.
O pecado de Porto Negro, de Norberto Morais: uma história dura de amor, ódio, ciúme e vingança passada em Porto Negro.
Terra de Milagres, de João Felgar: Luzia ganha fama de santa milagreira o que atrai muita gente à outrora pacata aldeia do interior.
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Andreia Morais
Concordo contigo, acabam por tornar a história mais intimista,
Li os da Maria Isaac e o da Lénia Rufio [e adorei todos]. Na minha estante por ler, tenho o do João Tordo [que quero tentar ler no próximo mês] e o do Norberto Morais. Vou anotar o do João Felgar