inquieta

Há uns tempos perguntaram-me numa entrevista: “o que mais te inquieta?” Prontamente respondi “o que mais me inquieta sou eu”. (podem ouvir aqui)

Estou sempre a criar situações na minha cabeça. Sozinha. Crio o problema. E deslaço-me dele. Ou tento. A maior parte das vezes, apenas tento! Que remédio. Estou sempre meio que no limbo de alguma coisa! Alguns dirão que viver no limite é mais intenso. Eu concordo. Mas eu vivo constantemente perante a constatação de várias dualidades capazes de me deixar, se não louca, talvez inquieta. Esta é uma realidade da qual eu tenho consciência e noção. Porém isso não atenua a histeria capaz de me provocar. E não contente com a inquietude que eu mesma despoleto em mim, levo, um sem número de vezes, estas questões para a mesa do jantar. Gosto de discutir sobre filosofia. Não é à toa que um dos meus livros preferidos é o Mundo de Sofia.

A permanente dúvida que inquieta uma mente à solta como a minha

Há por exemplo uma questão que me atormenta diversas vezes: é a dúvida de viver o presente desfrutando em consciência e com calma e/ou saltar de vivência em vivência velozmente. Porque o que mais importa é agora, já sei. Quando estamos nesta bonita situação a que chamam “viver o presente” relaxamos, sabe bem, dá felicidade e não pensamos que temos de fazer o que falta. E isto é que me leva à minha próxima questão que é na verdade o cerne de tudo isto. Eu vivo exausta a acumular todas as experiências possíveis no menor espaço de tempo. Porque para além do “carpe diem” também há a pressão desmesurada do “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” e o pior de todos, o mais mórbido porém sábio “sabes lá se cá estás amanhã”.

Um exemplo muito claro do que estou a dizer: É suposto poupar para quando formos maiores (não dizer velhos) ou ir gastando à medida que se vive? Deve-se fazer planos porque o sonho comanda a vida ou não deixar nada para depois com a hipótese devastadora que o depois pode não chegar a existir? É que a primeira parece-me uma vida de contenção e a segunda uma vida meio à pressa. A primeira parece-me monótona sempre à espera que o melhor ainda virá e a segunda uma vida pressa ao medo do tempo. Estou a ler um livro e a adorar e por isso quero ficar dentro dele para sempre, mas também tenho que me despachar porque não quero desaparecer sem ter lido todos os que estão na estante (ou à mesmo à venda).

O que me inquieta sou eu. O meu maior problema sou eu.

E então o que é que acontece? Quando estou a viver o momento penso que tenho que me despachar e quando estou fazer várias coisas ao mesmo tempo penso que tenho que me acalmar. Às vezes é como se vivesse dentro daquela canção que diz que só quero ir onde não vou e estar onde não estou”. A permanente insatisfação faz com que eu imagine a próxima viagem quando ainda estou no avião da primeira. E por outro lado é esta sensação de coisas incompletas que motivam. E tenho tanta pressa porque não quero perder nada. Nem uma experiencia, música, livro ou jantar de convívio. E ao mesmo tempo não quero perder a oportunidade de me deixar estar. Quieta. Sozinha. Não é incomum eu querer estar ao mesmo tempo numa festa e no meu sofá.

É normal para mim pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Coisas essas que não têm de estar relacionadas umas com as outras. Consigo trabalhar, ouvir musica e de repente ter uma ideia para um post. A minha cabeça nunca está em silêncio. E por isso é que este texto é meio sem sentido. Porque despejei de forma tosca uma das gavetas desarrumadas do meu cérebro para aqui. Agora vou voltar a arrumá-la por cores e tamanhos.