nuvens

Este texto foi escrito a bordo de um avião, a olhar para a janela, e não é de todo cientifico. É mais criativo. Ou imaginativo. Ou apenas um acumular de frases que me lembrei de juntar sem aparente relação, ou (pior) sentido. Esqueçam por momentos a explicação técnica, na imaginação, de que são feitas as nuvens, afinal?

Há um momento em que, lá em cima, não distinguimos a paisagem. Não sabemos se é um mar cheio de espuma. Se uma montanha cheia de neve. Se é um céu cheio de nuvens.

Vou apostar que são nuvens, desta vez.

Não sei se elas são suaves e fofas. Se são possíveis de moldar com a mão. Frias ao toque. Se se aconchegam ao nosso corpo. Se as podemos agarrar, soltar e soprar. Não sei se nos suportam em pé, como ao Son Goku. E por elas podemos saltar como aquelas imagens de sapos de nenúfar em nenúfar. Ou se são feitas apenas de fumo. Que desaparece.

Não sei se são algodão ou se são com as claras em castelo. Húmidas. Às vezes tenho a sensação que são antes como natas batidas. Ou pasta para bolos daquelas que podemos desenhar com o saco de pasteleiro. Se lhes passar o dedo e se mantiverem sólidas posso fazer um caminho como no ponto caramelo. Posso escrever como na areia.

As nuvens quando estamos lá em cima e quando estamos lá em baixo

Há um momento em que, lá cima, quando as vemos mais perto, nos parecem tantas coisas diferentes daquelas que imaginamos quando estamos lá em baixo. Na verdade, o que pensamos com os pés na terra ganha outro contexto. Não só conforto. Não só juízo. Cá em cima as nuvens formam pequenas ilhas rugosas e imperfeitas de mil formatos diferentes. Umas são pontiagudas outras redondas e gordas. Umas são pequenos com traços perdidos dos irmãos, outras são grandes e volumosas. Umas parecem tão firmes e outras tão frágeis.

Serão pedaços de sonhos? Sonhos acumulados. Que as pessoas têm para realizar um dia. Quando concretizam esses desejos as nuvens desvanecem-se depois dão lugar a outras. Podem ser ideias. A vaguear. Sozinhas. E vão se aglomerando quando encontram as suas semelhantes e esvaindo quando alguém as começa a usar.

As nuvens são, cientificamente, partículas de gelo ou água suspensas na atmosfera. Mas são tão mais interessantes quando achamos que são elefantes, coelhos ou girafas. Ou outra coisa qualquer que não faça sentido nenhum. Como este texto.