Amizades adultas

Podemos pensar, quando somos adultos, que fazer amigos nesta altura, é difícil ou até mesmo que já não vale a pena. Porque já temos os amigos de infância ou da universidade presentes na nossa vida. Porque a azáfama dos dias nos condiciona horários compatíveis nas agendas. Porque as amizades exigem tempo e espaço que muitas vezes não temos ou sentimos que não têm para nós.
Tenho vindo a descobrir que manter amizades antigas é um privilégio por isso mesmo. É uma sabedoria. Exige ginástica mas é um bem precioso. Feliz de quem pode guardar amigos há mais de 20 anos como eu. Porque, muitas vezes, as coisas perdem-se, de propósito ou não, e é normal. Porque já não somos iguais ao dia em que começamos essa amizade.
As amizades que se criam em adultos são diferentes. São como um baralho de cartas. Batalhamos e voltamos a dar. Vamos a jogo novamente. E, nesta rodada, saem-nos dois pares de ases e fazemos poker. Porque nos juntamos a pessoas que magicamente têm os mesmos interesses que nós. Porque há propósito e intenção. Já temos mais certezas sobre nós e não temos medo das palavras para dizer o que sentimos. As amizades que fazemos em adultos não julgam, não cobram, não exigem. Não têm histórico. Transformam-nos e acrescentam-nos porque estamos mais disponíveis para ouvi-las. Escolhemo-las.
Encontrar nestas pessoas, que outrora eram desconhecidas, que não sabem nada sobre metade da nossa vida, a mesma empatia e cumplicidade, do que naqueles que a conhecem de trás para frente (e ainda assim nos amam) é poderoso. Como a amizade deve ser.
(A foto é de um piquenique onde comemorei o primeiro aniversário de amizade com pessoas especiais – que me inspiraram a escrever este texto)
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