Texto para uma música

Foi no dia em que me perguntaram qual era o meu propósito que fique pela primeira vez sem palavras. Respondi desconfiada “o meu propósito para fazer alguma coisa?”. Disseram-me que não. Queriam saber o meu propósito de vida.

_Toda a gente tem um propósito de vida? – perguntei

_Acho que sim. O meu é ajudar os outros a entender os seus propósitos. – respondeu-me, ironizando.

Desde esse dia, quando me encontro em momentos difíceis ou a noite é demasiado escura e longa a angústia consome-se. Penso nesse tal propósito. Serei diferente? Há uma voz que me murmura que a almofada não resolve, mas melhora. Olho em volta e não está ninguém. Deve ser o senso comum. Os problemas não desaparecem amanhã. Mas vão amainar.

Quando os problemas são dos outros temos sempre algo que faríamos ou diríamos. Mas os nossos são sempre piores. Por isso é que precisamos da distância que a almofada nos dá como se olhássemos as nossas próprias inquietações de fora. Amanhã a resposta será mais consciente. Talvez mesmo até mais fácil. Um dia a seguir ao outro é um caminho mais seguro de trilhar.
Quando desperto a tal voz já não é em surdina. Está mais clara. Doce e confiante. São palavras de sabedoria. E diz-me:

_Vive a vida um dia de cada vez. Momento a momento. Sem manuais. Planos. Desejos ou sonhos. Deixa-a ser livre. As respostas vão chegar. Deixa estar. Deixa ser. Deixa que aconteça.