livro "à procura de jane"

Que surpresa incrível foi este livro. Não estava nada à espera daquilo que encontrei. Fiquei tão, tão agradada com a experiência de leitura! “À procura de Jane” promete várias histórias de mulheres diferentes, e muito reais, mas que se interligam. Logo ai, já é meio caminho andado para eu gostar! Promete ainda ser uma história sobre escolhas e liberdade. Mas entrega muito mais do que promete. É cativante. Altamente envolvente. E bem escrita. Além disso, tem um toque de verídico porque junta aspetos sociais verdadeiros e debates que ainda hoje (neste século!!!) tão envoltos em polémica. Há, portanto, aqui vários ingredientes de enredo e personagens que garantem, na minha opinião, o sucesso deste livro do qual gostava de ouvir falar mais. Porque merece. Falta-me só dizer-vos sobre o que é.

A nota da autora

Confesso que nem sempre leio as notas dos autores no final. Mas neste livro é imprescindível. Na nota da autora ela diz: “quando me perguntam ‘então, o seu livro é sobre quê?’, a minha primeira reação é responder ‘aborto’. Mas não é disso que o livro trata. ‘À procura de Jane’ é sobre ser-se mãe. Sobre querer ser-se mãe e não querer ser-se mãe, e todas as áreas cinzentas que ficam de permeio. É sobre o que as mulheres estão dispostas a fazer para interromperem uma gravidez e para engravidarem”.

E eu acho isto espantoso. Porque descreve na perfeição o que senti a ler o livro. Também podem encontrar aqui o vosso trigger no caso de acharem que não é o livro indicado para vocês neste momento da vossa vida.

A história de “À procura de Jane”

Tudo começa com uma carta (enviada em 2010 e nunca lida pelo remetente) que é encontrada em 2017. Recua depois a 1960 a um lar, que imaginei frio e escuro, que recebe mulheres grávidas consideradas uma vergonha para a família. O que é feito destes bebés que nascem ali? E das mulheres que os dão à luz?

Esta história vai atravessar a época em que as mulheres tinham de recorrer a abortos ilegais e perigosos, quando não desejavam ter filhos, até ao momento da sua despenalização. O interessante aqui é que vamos encontrar também o ponto de vista da medicina que pratica este acto ao longo dos anos. Quais são as motivações das mulheres que se juntam a um movimento para proporcionar abortos mais seguros? Ao mesmo tempo, acompanhamos ainda a luta das mulheres do outro lado da barricada, já em 2017, que enfrentam uma série de tratamentos para serem mães. Portanto, é uma história que não esquece nenhum dos lados de uma temática que não deixa de ser atual. Ter ou não ter filhos.

A mensagem do livro

O que mais me cativou foi a mensagem que a autora passou durante todo o livro. Mulheres a ajudar mulheres. Coragem, empatia, lucidez e luta. E sem juízos de valor. Porque, como elas diziam na história não se trata de ser contra ou a favor do aborto. Trata-se sim de ser a favor da escolha e da liberdade de cada mulher independentemente dos motivos de cada uma.

Depois desta vertente social, que nos mostra um assunto ainda tão sensível, há a forma como todo o livro está escrito e construído até ao grande plot final do qual eu não estava à espera e ao qual quero tecer os maiores elogios. Durante o tempo de leitura estive totalmente conectada à Evelyn, à Nancy e à Angela lembrando-me delas muitas vezes durante as pausas da leitura. É extremamente emotivo e tocante ler este livro. Gostei imenso e acho que pode ser um dos favoritos do ano.