Gosto de olhar para uma agenda vazia. As páginas em branco. Dia após dia. Semana após semana. Meses. Tudo em branco. A agenda vazia significa que ela está pronta para receber aventuras. Planos, ideias. Sítios para ver. Coisas para fazer. Coisas por escrever.

Quando vejo a agenda vazia ponho-me a imaginar tudo o que posso fazer naqueles dias. Começo a inventar duzentas coisas para fazer e encher aqueles dias vazios. Mesmo com coisas que não interessam. O que eu quero preencher os espaços brancos na minha vida. Não me costumam faltar ideias. Haja páginas.


Nesta altura do ano começo a pensar na agenda do ano que vem. Há em mim um certo fascínio em procurar a agenda perfeita. Perco imenso tempo. A ver, a escolher. Preciso de agendas com espaço para escrever muito. Normalmente não uso a mesma do ano passado porque gosto de variar. Mas este teve de ser. Gostei tanto da agenda do ano passado que vou repetir.

Gosto de agendas, de cadernos e bloquinhos. De todos os tamanhos. Desde os tempos de fazer as compras escolares. Sempre gostei de folhas e canetas e lápis. E muitas coisas para escrever e desenhar. Não escrevo para não me esquecer. Eu raramente me esqueço. Eu não consulto a agenda para saber o que tenho amanhã, tipo aquelas pessoas “ah, deixe-me só consultar a minha agenda”. Eu normalmente lembro-me. Apenas gosto de registar. Gosto de organizar. E, mais uma vez, de escrever! Sempre escrever.

Quando era pequena sempre tive agendas e diários, daqueles que saiam nas revistas ou que eu pedia para comprar ou que me ofereciam. E o que eu gostava mesmo era de os encher de coisas. Mas não tinha grandes planos, naquela idade, para colocar numa agenda, então acabava por lá escrever o que tinha feito ontem e não o que tinha para fazer amanhã. Agora sei que isso era um diário. Mas na altura não sabia. E também não importava. Escrevia pérolas destas: “passei o dia na casa da avó” ou “fui às compras” ou “hoje não fiz nada”. Hoje a minha agenda é um bocado diferente. E o que quero fazer dela também!

Hoje a única coisa que me chateia é escrever este plano ou aquele, tipo querer mesmo ou precisar mesmo de fazer uma coisa e escrever e depois não dar. Detesto o “não deu”. Não deu porquê? Se eu tinha escrito lá tinha que dar.  Odeio ter planeado fazer uma coisa e depois não fazer. Ainda por cima se já escrevi. Odeio riscar. (Eu sou a pessoa que passava a folha inteiro a limpo se uma palavra estivesse riscada.)Detesto quebrar planos. Mesmo os delineados por mim. E às vezes pergunto-me se vale a pena fazer tantos planos. Se não é melhor deixar as coisas rolar. Talvez este ano valha mais escrever na agenda a lápis. E ter uma borracha, claro.