“É para cortar”

Eu sou aquela pessoa a quem custa cortar o cabelo. Já sei que é uma coisa que volta a crescer. Já me disseram. Mas custa-me, pronto.
O meu processo de cortar o cabelo começa muito antes de chegar ao cabeleireiro. Primeiro começo a fartar-me dele. Começo a ficar com aquela sensação de peso na cabeça. Começo a ter muita vontade de o apanhar para não me ver com ele à frente. Depois de meses nisto começo então a pensar em ir cortá-lo. (A pensar!) Alguns tempos depois começo a falar nisso às pessoas. A dizer que vou cortar. Como que a precisar da aprovação delas. Como que à espera que me digam “não, por favor não faças uma coisa dessas”. Nunca ninguém diz. Depois disto então começo à frente de qualquer espelho que encontre a meter farripas do meu cabelo para frente, como se fossem mais curtas, dobrando as pontas, a ver se me ficava bem um corte assim e penso “e se cortasse por aqui?”
Só depois de vários tempos nisto é que decido finalmente entrar num cabeleireiro. E digo “é para cortar!”. Até me arrepio. Depois pedem-me para sentar e esperar só um bocadinho pela minha vez. Uma tortura. Ficar ali a ouvir a tesoura no cabelo das outras pessoas faz-me sempre arrepender.
Enquanto espero fico a fazer várias considerações. Não só acerca de mim mas das pessoas que vejo à espera. Existem várias senhoras que vão ao cabeleireiro só porque sim. Algumas vão mesmo só lá lavar o cabelo. Mas porquê? Não podem lavar em casa? E se só lavam ali, quer dizer que lá vão de dois em dois dias ou ficam eternidades sem lavar o cabelo? Medo. Outras chegam lá com o cabelo super armado, provavelmente cheio de laca, que estiveram a meter antes de sair de casa, e chegam lá a perguntar se lhes podem “dar um jeitinho ao cabelo”. Tipo, não, não venho aqui ocupar lugar. É uma coisa muito rápida. Ia ali a passar e lembrei-me. Não venho cá cortar. Não venho cá fazer nada é mesmo só dar “um jeitinho”.
Chega a minha vez. Digo quanto quero cortar. É sempre para cortar as pontas. E a cabeleireira pergunta sempre se eu tenho a certeza. Ela já sabe o drama que vai ser a seguir. Quando eu era criança a minha mãe ou a minha avó levavam-me para cortar o cabelo e faziam gestos nas minhas costas para a senhora cortar sempre mais. Sim! Saia sempre de lá tristíssima. Com o cabelo curto. E assim andei até ter idade suficiente para que as minhas birras tivessem algum crédito e passei a decidir o tamanho do meu cabelo. E então a partir dos meus dez anos, mais ou menos, pude usar o cabelo comprido. Sempre.
Já fiz muitas coisas ao cabelo. Já o pintei de muitas cores. Depois decidi manter a minha cor e não lhe mexer mais. Mas nunca fiz um corte radical. De há uns tempos para cá tem me apetecido cortar mais curto. Tenho cortado aos poucos. E desta vez foi mais um bocadinho. O suficiente para a minha mãe me dizer, com um ar feliz “Parece que tens outra vez seis anos.”
Ah, então está bem. Seis anos.
Carla Marques da Silva
Espero que o Natal tenha sido muito bom 😀
Eu tenho sempre medo de cortar de mais, pois depois já não tem remédio 😀
Ultimamente tenho pensado mudar, mas nem sei muito bem como, eheheh…..é complicado 😉
Beijinho grande <3
https://demantanosofa.blogspot.pt
Green
Também não gosto de ir ao cabeleireiro por ter de o cortar, mas tem de ser, até mesmo para ele ganhar força e vida. No entanto, sou como tu, é só as pontas e tenho o cabelo bem grande, mas eu sou daquelas pessoas que “ralha”, eu “ralho” com a minha cabeleireira e digo que são só as pontas e que já chega, normalmente ela não insiste muito e pára.
Daniela
Eu odeio cortar o cabelo. Como sempre tive um cabelo muito encaracolado, cortar as pontas significa ver o cabelo a encolher imenso. Só desde que fiz um alisamento e o cabelo amansou, é que comecei a ter menos medo da tesoura.
Beijinhos
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