Home sweet home: divisão de tarefas
Antigamente escrevia muito nesta rúbrica (que inventei). E agora, ao tempo que não digo nada. Quer dizer, vocês devem pensar que isto aqui por casa anda um mar de rosas. Mas a verdade é que a divisão de tarefas nunca foi uma coisa pacífica nem aqui nem na China.
Opah lembro-me tão bem. No primeiro ano que moramos juntos definimos uma série de coisas. Não queria dizer regras, estão a ver? Mas eram. Regras de convivência e sobrevivência de quem nunca tinha vivido sem os pais por perto. Definimos que o último a sair fazia a cama, por exemplo. Tão queridos. E profundamente irrealistas.
Regras bem definidas para ser feliz
Estipulamos regras de coisas que nunca íamos fazer. E não era “nunca vou deixar o tampo da sanita aberto” nem “nunca vou deixar a toalha em cima da cama”. Não era nada disso. Era ainda mais à frente.
As nossas regras passavam por coisas inteligentes e altamente benéficas para ambos. Ele avisou-me que nunca ia passar a ferro. E eu avisei que nunca ia lavar casas de banho. Eu passava então a ferro e ele lavava as casas de banho. Para sempre! (Como é evidente já nada disso acontece. Porque, enfim, passaram quase seis anos. Esperem! Minto! Ele continua a lavar as casas de banho eu é que já não passo a ferro.)
Divisão de tarefas através de um método simples e fácil: o meu!
Perguntamos um ao outro “preferes lavar a loiça ou apanhar a roupa?” Gosto sempre quando é ele a perguntar porque eu gosto de escolher. Prefiro vinte vezes lavar a loiça do que tratar da roupa. (Já for entre lavar a loiça e cozinhar, prefiro fazer o comer). Aliás tudo o que seja relacionado com roupa (a menos que seja comprá-la) eu detesto. Estender, apanhar, passar, dobrar, arrumar. É um dia inteiro só à volta disto.
No outro dia tivemos o seguinte diálogo. Atentem na facilidade de comunicação. Na rapidez de raciocínio. No poder de argumentação.
_ Preferes apanhar a roupa ou dobrar? Perguntou-me ele um dia destes. Sem alternativa que não envolvesse roupa elaborei um plano rapidamente._ Eu vou meter roupa a lavar. Por isso é justo que tu apanhes a que está no estendal. _ Respondi.
_ Ok. Depois tu vais dobrar. (Hum, comecei a elaborar rapidamente um plano na minha cabeça).
_ Não. Eu vou levar a roupa para a máquina. Depois vou trazer a roupa que tu vais apanhar para o quarto. E tu vais dobrar. Dois coisas para cada um. É justo.
Não percebI porquê mas ele riu-se. Eu sou boa a fazer a divisão de tarefas. Pensar nestas estratégias exige muito para que seja tudo o mais justo possível. O mesmo número de coisas para cada. E ele ri-se. Não percebo.
Sabe lá o trabalhão que dá gerir duas pessoas que não querem fazer nenhum! No fundo isto é um exercício de criatividade da minha parte, uma vez que tento sempre escapar de todas as formas. Transportar a roupa do estendal par ao quarto não dá trabalho, mas na divisão de tarefas, confessem, é no mínimo criativo. Só por isso já merecia ficar no sofá!
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