Escrevi sozinha na rua. Nunca tinha escrito, deitada numa manta de retalhos, no jardim. Havia sombras mas eu escolhi o sol, porque o vento era frio e assim sempre estava mais aconchegada. O sol a bater na nossa cara é sempre reconfortante. Abri o meu caderno e dei corda à caneta. Não era uma caneta de penas, mas era a minha companheira para essa tarde. Escrevi até me doer o calo do dedo dos tempos de escola.

Eu e as canetas temos uma ligação especial. Tenho sempre uma data delas. E não gosto de todas porque acho que nem todas me fazem a letra bonita. Também não gosto quando lhes perco as tampas. É um bocadinho estranho. Também era estranho estar a escrever ali deitada, já me doíam as costas, que a pessoa já não vai para nova. Mas não me desfiz. Continuei ali deitada que quando estamos inspirados não se pode bloquear a escrita.

As pessoas iam passando. Acho que estavam a apanhar pokemons. Pensei que isso tinha acabado. Eu própria cheguei a jogar, mas acabei com tudo quando os bichos me fugiam. Não tinha paciência. Então ali fiquei eu na mesma posição enquanto o vento me incomodava e insistia em mudar-me a página ou levar-me o cabelo para a frente da cara.

Há muita gente que vem para o parque ler. Sentam-se ali sozinhos nos bancos. As pessoas dos bancos dos jardim. Dava outro post. Eu não gosto de fazer muitas coisas sozinha. Mas estou aqui a compreender como é que é. E gostei de estar naquele dia deitada no jardim a escrever.

O que escrevi naquele dia deitada na manta no jardim foi uma coisa meio aleatória. Sem sentido até. Sem coerência, sem caminho certo, só pelo prazer de escrever, de passar para o papel os meus pensamentos através de uma caneta. Não faz mal, hei-de retirar destes gatafunhos, escritos à mão, algum sentido para outros textos.