palhaços

Quando era pequena não gostava de palhaços. Não sei se era a pintura na cara. As roupas garridas. Ou a cabeleira colorida. Alguma coisa me fazia chorar sempre que alguém insistia, natal após natal, em dar-me palhaços de presente.

Muita coisa vos vou dizer neste post que não abona a meu favor. Mais uma vez. Estou aqui para me expôr, mesmo. Não há-de vir mal ao mundo acerca disso. A primeira coisa é que tenho um passado estranho com palhaços.

Quando era pequena não gostava de palhaços

Ainda estou para entender o fascinio que as pessoas da minha família tinham ao ver-me chorar sempre que abria um presente e descobria que era um palhaço. Mas, a sério, qual era a ideia? Eu tinha medo de palhaços. Nunca descobri o motivo disto. Não sei se era da cara pintada, das roupas largas ou do cabelo colorido.

Mais tarde o medo acabou. Sem razão, como tinha começado. Passei até a gostar dos números dos palhaços no circo. Nesta altura, a minha mãe achou super giro mascarar-me de palhaço. (Que rica infância! Traumas para todo o sempre foi o que eu ganhei.) Eu até gostava de me mascarar quando era pequena mas hoje acho isso muito parvo. Não gosto das roupas. Faz-me confusão pintar a cara e sobretudo detesto perucas. Não consigo experimentar sequer meter uma na minha cabeça. Talvez o meu passado com medo de palhaços justifique hoje não gostar do carnaval.

Os palhaços já não me fazem impressão como antes. Quer dizer, pelo menos não faziam até ter ido ver o “Joker”.

A segunda coisa que tenho para vos revelar é que nunca tinha visto nenhum filme do Joker nem do Batman ou lá o que é…

Não sei nada sobre este assunto. Não sei a história do Batman nem do Joker. E isto prende-se com a terceira coisa péssima sobre mim que vos vou revelar hoje que é… não saber nada sobre o univerno da Marvel e dos super heróis que existem para aí. Pronto. Falei. Saiu-me cá um peso de cima. Carregava este segredo dentro de mim há demasiado tempo.

No entanto, eu gosto de me desafiar. E tal como li sobre Game of Thrones em vez de ver, também agora fui ver este filme do Joker sem saber de nada do que está para a frente ou para trás nesta história. Não sabendo eu, então, nada do que acontece na vida deste personagem fui ver o filme plenamente vazia de expectativas.

Joker, o palhaço que devia sorrir

Sabia que seria um filme que iria abordar a forma como a doença mental é vivida e vista na sociedade e que a interpretação de Joaquim Phoenix, no papel principal, estava muito boa. Isto foi o que li. Fora isso, sabia que Joker era um vilão e fui ver porque gosto de saber o que está por trás da formação de um vilão. Tenho um fascínio pela malvadez, será? O que faz uma pessoa ser, digamos, má? Quais as suas motivações? O que a leva a agir de acordo com o que consideramos eticamente mau?

Arthur vive com a mãe, sofre de doença mental e trabalha como palhaço. A mãe sempre lhe disse que devia meter uma cara feliz. E, na verdade, estamos habituados a ver os palhaços rir. Mas a primeira cena do filme é precisamente Arthur a tratar da sua caracterização, pintando a cara, formando um sorriso com tinta vermelha e com uma lágrima a cair-lhe cara abaixo.

Olhem, digo-vos uma coisa. Vi o filme de mãos na cara e com um desconforto enorme. É dramático e perturbador. É difícil, é cru, real e é sobretudo triste. Arthur era incompreendido pela sociedade porque não era igual a toda a gente. A gente dita normal. E então, num acesso de raiva (e outras tantas coisas, vá não posso dizer) transforma-se em Joker como o conhecemos: mau.

Não é um palhaço feliz. É um palhaço assustado e assustador que numa segunda fase da sua doença causa o caos na cidade. E passa a ser o Joker que todos vocês conhecem. Depois disto, anos mais tarde, aparecerá o Batman para o combater. Mas isto eu já não sei. É o que dizem os entendidos, ou seja os fãs.

Já pensaram que o termo palhaço às vezes é um insulto quando nos referimos a alguém negativamente?

O termo palhaço está ligado a sorrir desmedidamente. A fazer asneiras ou a ser engraçado. Devia ser uma coisa boa. Mas nem por isso. O termo palhaço às vezes é um insulto. Porque serve para ridicularizar.

Na minha opinião, associar esta personagem à doença mental está bem conseguido no sentido de que passa bem a mensagem quanto ao tratamento que devemos dar a estas doenças em sociedade. Não sabemos nada sobre elas. E isso, tal como o Joker, é assustador. A doença mental pode levar as pessoas a fazer coisas sem explicação. Mais uma vez, como o Joker.

O filme é bom porque, reparem, por um lado…passa uma mensagem forte através de um personagem que devia transmitir alegria. Conseguem transformá-lo num vilão. Por outro lado conseguem levar tantas gerações, amantes de filmes de animação e fantástico, às salas de cinema para privar com esta temática. E claro, não nos podemos esquecer do elemento “sensação de desconforto” durante o filme que é a prova que toca nas nossas emoções.

Já viram este filme? São adeptos dos filmes de super heróis e cenas? O que acham desta temática ligada a um filme tão popular?