Livro “Viradas do Avesso” – Joana Kabuki | review e reflexão

O livro “Viradas do Avesso” é a estreia da autora Joana Kabuki na escrita. Desde logo, pela “campanha” nas redes sociais de divulgação do nome, que me chamou a atenção e fui ao lançamento para falar um pouco com a Joana pessoalmente. Criei o hábito de começar a ler os livros a seguir aos lançamentos. Venho sempre para casa (ainda) mais envolvida no espirito. São cá manias que eu vou tendo comigo mesma, vocês já estão habituados!
Livro “Viradas do Avesso”
Esta história tem três partes e em cada uma delas o ponto de vista de três personagens sobre o mesmo acontecimento. (Assustei-me quando percebi que cada parte teria um capítulo por personagem. Eu fico reticente com capítulos grandes. Mas não é que nem me apercebi do tempo a passar em cada um? Que bruxaria é esta Joana Kabuki?)
Como eu acho que sou muito engraçadinha, vou eu também dizer três coisas acerca do livro. Ora atentem:
Sinopse
Alice, Berta e Carlota são amigas desde crianças e andam juntas para todo o lado até um dia… a Berta desaparecer. A ausência da amiga em vez de juntar as outras duas, afasta-as. E cada uma lida com a dor da incerteza do que aconteceu e com a saudade do que foram juntas de maneira diferente e distante.
1) A amizade. A mensagem. A intensidade.
Temos 3 personalidades distintas a lidar com o mesmo acontecimento que fez (entre outras coisas) desmoronar uma amizade aos 17 anos ( a idade em que tudo é mais intenso). Todas elas estão descritas e construídas com uma profundidade notável e imensa.
Neste tipo de livros temos tendência a identificarmo-nos mais uma do que com outras. Pois eu vi-me nas atitudes menos compreensivas da Alice, nos diários guardados da Berta e naquela forma de demonstrar amor menos calorosa da Carlota. Eu encontrei-me um bocadinho em todas. Olhei para mim nos defeitos e qualidades delas. Vi as minhas amigas mais antigas nelas também. Na rua onde elas brincavam, estava a minha. Com as brincadeiras que elas inventavam lembrei-me das que eu fazia. Também eu tinha amigas do outro lado da janela. E também achei, um dia, que alguém mexeu no copo, na “sessão espírita” à luz de velas!
A Joana Kabuki teve a capacidade de me desbloquear memórias que são bastante felizes, e de me provocar reflexões acerca das amizades que ainda hoje mantenho e das que deixei escapar. O que seria eu se as mantivesse? O que seriam das minhas memórias se não tivesse as amigas que fiz há mais de vinte anos? Escolheria as mesmas amigas hoje? Com o crescimento, as aprendizagens e personalidade que tenho agora? É por isto que gostei especialmente do livro. O efeito nostalgia ganhou-me. Mas não foi só isso…
2) Mistério e enredo. Envolvente e cativante.
Rendo-me a um bom mistério. No livro “Viradas do Avesso” ele existe. Afinal o que é que aconteceu à Berta que condicionou posteriormente a vida dela e por consequência a das outras duas amigas? Está muito bem feita a forma como o que aconteceu é contado. Não é daquelas histórias que só vamos saber no final. Vamos sabendo. E sendo surpreendidos a cada novo detalhe.
Este mistério está inserido na história de uma forma muito inteligente. Vamos tendo bocadinhos de presente e de passado. Do que elas foram. Do que elas são. Este ritmo, que nos faz andar para lá e para cá, que aprecio, faz com que, sem nos apercebermos, passemos folha atrás de folha, completamente viciados.
Talvez o motivo do desaparecimento bem como as consequências que provocou na vida delas, possa ser mais duro e forte do que estejam inicialmente a pensar – faço aqui a ressalva para quem for mais sensível. No entanto, para mim funcionou bem.
3) A escrita. Cheia de significados.
Fosse eu pessoa de sublinhar nos livros e teria passado metade deste com o lápis na mão. Ainda agora tenho a impressão que vou voltar ao livro para pelo menos deixar alguns post its em algumas frases. Quem sabe, mais tarde, a Andreia do futuro não vá ficar “virada do avesso” por saber de saber de que partes a Andreia do passado gostou?
Não há nenhuma vírgula mal pensada aqui. Um escrita fluida com sentido e para criar sentido. Faço-me entender? Olhando para aquilo que a Joana conseguiu, até parece fácil.
Por fim, gostava de referir que tenho ouvido muita gente dizer que a capa (que é incrível) pode levar ao engano e fazer parecer que é um livro de comédia ou young adult pelo seu ar leve e descontraído. Bom, não é de facto nem uma coisa nem outra. Mas também não posso concordar. Eu adoro a capa e acho que cabe sim nesta história. Estão lá representadas três mulheres a quem precisa de ser devolvida a cor nas suas vidas. Eu achei bem. E com isto disse quatro coisas, afinal!
“Viradas do Avesso” é um livro sobre amizade. Já leram?
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