A humilde caixa de costura

Quando foi a última vez que fizeram algo pela primeira vez? Como por exemplo, sei lá, assim de repente, coser botões? Apresento-vos a minha humilde caixa de costura.
Tudo tem que ser um marco, uma experiência, um acontecimento, não é? Tudo tem que ser uma novidade. Devemos fazer de tudo uma vitória. Sabem quando eu vos disse que odiava que me perguntassem por novidades? Que nunca tinha nada suficientemente digno para dizer ou contar? Pois olhem. Cosi botões pela primeira vez num casaco. E vou fazer disso uma história para contar. Querem ver?
O dia em que comprei uma caixa de costura para pregar botões
Num dia somos jovens e no outro estamos com uma caixa de costura, de tamanho inferior a uma mão, à nossa frente sem saber o que fazer com ela.
A minha vida inteira levei coisas para a minha mãe coser. Sei fazer ponto cruz desde miúda mas nunca quis saber de outros lavores do género. Acontece que era uma vez um casaco que queria usar impreterivelmente naquele dia mas cujos botões tinham saltado um por um. Só se viam fios desgraçados no lugar onde outrora figuravam botões impecáveis.
Acho sempre uma graça às roupas de trazem botões suplentes porque primeiro, nunca vou saber onde os meti, e segundo não vão ser suficientes. No caso, dos quatro botões que este casaco tinha, apenas um lá sobrevivia.
Fui comprar botões bonitos, linha e agulha. Achei um mundo bem interessante. Ao ponto que uma pessoa chega. Enchi-me de coragem. Cosi. Com as mãos bem a transpirar mas cosi. Tive sorte porque o forro do casaco era bem grosso e não deixou ver o emaranhado de linha mal arrematado do lado de dentro do caso. Assim, só mesmo uma alma sem vida que faça questão de inspecionar o que se passa por baixo dos meus botões poderá perceber o desastre que ficou. Do lado de fora, o que realmente interessa, estão lindinhos pregados fortemente.
Usei o casaco. Os botões mantém-se intactos. Acho que fui bem sucedida para primeira vez no ofício. Porém, não espero singrar na arte. Uma vez bastou para contar a história. Espero perder a caixa de costura tão rápido quanto perco coisas que realmente importam. Não venham, vocês, meias rotas, dizer que precisam de um pontinho que tenho um melhor destino para vocês, se é que me entendem.
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