Para fazer o retrato dos que não choram temos de pensar em alguém que está sempre a sorrir? Quem não chora é porque vive sempre feliz? Há muitas formas de choro. Nem sempre as lágrimas são de tristeza. Elas podem ser de frustação, medo ou nervoso. Há quem diga que podem ser de felicidade. Mas cada um tem a sua expressão de emoção.

Diz o meu signo (como sabem, sou muito crente nisto) (e, como sabem também, estou a gozar) que eu sou muito chorona. E esta é capaz de ser a característica atribuída ao caranguejo que mesmo não acreditando em nada disto, me enerva na mesma. Isso e todas as piadinhas que giram à sua volta. As pieguices, portanto. Para as quais eu não tenho paciência. Há algum signo impaciente? Eu podia ser esse. Devíamos poder mudar de signo. Assim, como mudamos quando não estamos satisfeitos com um serviço.

Ora, portanto, não é que eu seja uma pedra. (Pelo menos não daquelas muito grandes, da era dos fósseis. Digamos antes que sou uma pedrinha das que incomoda no sapato, pode ser dessas, vá) Não é que eu não tenha emoções. Simplemente a maioria daquelas que faz as pessoas chorar não são as que me fazem chorar a mim. Eu não choro a ver filmes nem a ler livros. Informação dramática! Não choro em casamentos. Chocante, presumo! Nem com declarações de amor ou amizade.  Mas já fiquei dias a pensar em histórias reais ou da ficção que acabaram comigo por dentro. Isso acontece. Eu também fico destruída. A tristeza acontece-me. Conheço a sensação. 

Sei, contudo, perfeitamente, que se fosse uma pessoa de chorar, quais seriam os livros ou filmes que conseguiriam fazê-lo. O filme “Impossível”. O livro “o menino de cabul” e uma entrevista que a Maria Botelho Moniz deu ao Daniel Oliveira onde contava como soube e posteriormente viveu morte do namorado, com quem vivia. Sim, é bem aleatório.

Então, o que me faz chorar?

Então, o que é que me faz chorar? (É a pergunta que mais aflige o povo!) Porque, sim, choro. A miúde. Mas diria que é mais frustração se estiver chateada ou irritada. E de medo. Se estiver sozinha em frente a um cão choro com toda a certeza. E se recear alguma coisa que pode até mesmo não ter acontecido ainda, choro também.

Choro a imaginar. Choro com cenários maus que crio na minha cabeça sozinha com os quais não me quero deparar. Acho que é por gastar essas lágrimas com o futuro que não me restam mais para chorar nas questões que emocionam as pessoas normais. Gasto lágrimas a crédito porque depois, se e quando acontecer essa coisa ruim já não choro (tanto!)