gravidez

Imprevisibilidade

Pensei, quando fiquei grávida, que daqui para frente a espontaneidade e o planeamento pelo qual eu regia a vida terminaram. A partir de agora teria de abraçar o poder da imprevisibilidade. Eu não sei como as coisas serão amanhã, para o mês que vem ou daqui a seis meses. A primeira lição foi aprender a saber que o que estou a marcar a caneta na minha agenda pode não acontecer. E a mim custa-me viver a vida a lápis de carvão e borracha.

Depois percebi que a minha imprevisibilidade não é diferente da imprevisibilidade das outras pessoas nem sequer é consequência do estado em que me encontro. A imprevisibilidade é comum à vida de toda a gente. Ninguém sabe o que vai acontecer. Vivemos todos agarrados a uma corda sem saber onde fica a ponta. E assim seguimos. Cheguei a esta conclusão sozinha. Palmas para mim!

Está a correr tudo bem

“Está a correr tudo bem”, tenho dito eu durante toda a gravidez a quem me pergunta por ela. Este “tudo bem” é real. Não é como aquele que dizemos ao vizinho no elevador.

Tive sorte numa série de coisas. Eu não tive enjoos. Eu não tive vontades incontroláveis de comer coisas. Eu não me levanto de noite para ir à casa de banho. Eu durmo bem. Eu continuo a gostar de calor e de praia. Aliás acho uma vantagem não ter de encolher a barriga em nenhuma foto de verão. Eu lembro-me das coisas. Não tenho dores de costas insuportáveis. Não tenho nada que me permita queixar.

Dei por mim muitas vezes a pensar se isto não seria um problema pelo qual iria pagar depois mais tarde, como se “estar tudo bem” fosse algo de errado. Estão a perceber? A minha insegurança e a sociedade fez-me pensar assim e não partilhei muitas vezes que estava tudo bem porque causa daquela positividade tóxica que pode fazer as outras grávidas compararem-se e sentirem-se inferiores. Porque se for bom, quase que não é verdade. Precisamos de relatos verdadeiros. Este é o meu.

Tomar decisões

Disseram-me que depois de ser pais estamos sempre a tomar decisões. Pareceu-me a frase mais acertada para definir a parentalidade. Até porque acho que ainda com o bebé na barriga já temos de tomar decisões a mais. 
Que tipo de parto queremos? Vamos recorrer à recolha das células estaminais? Qual a melhor banheira? E o carrinho? Queremos um berço ou uma cama evolutiva? Vamos dar-lhe chucha? Que creche escolher? Que tipo de alimentação vamos seguir?

Para mim qualquer decisão já é uma decisão a mais. Como pessoa indecisa é me difícil tomá-las sem fazer todo um estudo de prós e contras. Ainda assim, tomo-as. Mais tarde do que cedo. Mas tomo. Demoro muito tempo. Detesto decidir uma coisa no próprio dia em que me aparece. Preciso da minha almofada. Geralmente não me arrependo depois, porque sei que foi ponderado e consciente e isso salva-me. No entanto, todas as decisões que tomei até hoje mais fáceis ou mais difíceis, mais lentas ou mais rápidas, diziam-me respeito exclusivamente a mim. Nunca nenhum outro ser esteve dependente de uma decisão minha. E agora vai estar. A responsabilidade das minhas decisões não me vai afectar somente a mim, mas a outra pessoa. Temo, portanto, que as decisões que antes me demoravam dias a tomar possam agora passar a semanas, sendo que há a ligeira agravante de provavelmente terem de ser tomadas em horas ou no momento, até. 

A casa está a mudar

A nossa casa está a mudar. Primeiro foi o meu corpo e agora na proporção inversa as divisões da casa começam a encurtar para caber tudo o que cá estava mais dar espaço para acolher o novo morador.

A seguir a ver a barriga a crescer, ver o espaço a mudar foi o choque mais real. O escritório mudou de sítio. Computadores, armários com roupas e livros partilham agora o mesmo espaço. As sapateiras passaram para a entrada e ficámos com um quarto totalmente vago. Se no início não gostei de nenhuma destas mudanças, confesso que ver um quarto completamente vazio para encher de coisas que serão dele me fascinou. Já sei que esta mudança não precisava de ser para já, mas acho que ajuda tudo a ser muito mais real. Focar-me na funcionalidade e decoração do quarto é agora uma atividade cativante.