Quantas vezes, numa conversa, a pergunta que vem a seguir ao “como é que te chamas” é “o que é que fazes”? Antes de saberem a tua idade ou onde vives, primeiramente querem saber o que fazes. O que de tão importante assim diz a nossa profissão sobre nós?

Num contexto social, quando outras pessoas te apresentam a alguém é sempre mais ou menos assim: “esta é a Amélia e é enfermeira no São José”. Ou mesmo, quando somos nós, a falar de nós. Como se fosse isto, o que fazemos, que nos confere determinado estatuto.

Depois, se as pessoas souberem o que faz um enfermeiro ou um jornalista, ou um gestor de conta, tudo certo. Se não souberem perguntam “mas afinal isso é o quê?”. E a conversa continua em torno do que fazemos. E ficamos horas a falar de emprego. A explicar em que consiste o nosso trabalho de oito, dez ou doze horas. Explicamos o que fazemos todos os dias. Uns com orgulho, outro com queixume.

Porque falamos tanto de emprego em contexto social?

Falamos sobre o que fazemos em jantares de amigos ou família. Em festas, em encontros e em vários contextos sociais. E todos meio que avaliamos o que o outro faz, para a ver se trabalha muito ou pouco. Mas o objectivo principal é saber, na verdade, se trabalha mais ou menos do que nós e se ganha mais ou menos do que nós. Porque é disso que se trata. Se o fazes bem ou mal, pouco importa. Se gostas ou não do que fazes não interessa. E se estás feliz com isso ou não, ainda menos. Ninguém quer saber.

Mas desde quando é que o que fazemos nos define? Desde quando e por que é que isso te confere estatuto? Desde quando é que ser jardineiro, médico, empregado de balcão ou engenheiro diz quem tu és quando há uma quantidade de coisas que pode estar por trás disso?

O que diz a nossa profissão sobre nós?

O que sabemos exatamente de uma pessoa quando perguntamos o que faz profissionalmente? Sabemos se é chata, anti-social, nerd? Sabemos se é tímida ou extrovertida? Sabemos se pratica ioga, artes marciais, natação? Se cozinha bem ou pinta quadros nos tempos livres? Sabemos se é inteligente? Boa amiga? Companheira? Se tem a vida que sempre quis ou vive insatisfeita? Sabemos se é criativa? Ou se tem mau feitio? Se está com problemas? Se está sozinha? Sabemos se tem valores ou se nos vai roubar roubar a carteira?

Sim, o que é que sabemos? O que é que uma coisa que escolhemos fazer há dois meses, ou há cinco, dez ou mais anos diz sobre o nosso eu de hoje? E se não tivermos escolhido? E se foram as circunstâncias da vida que nos empurraram para um emprego que mantemos até hoje, seja porque motivo for e que nem sequer é aquele que dizíamos quando nos perguntavam “o que queres ser quando fores grande?” Mas, o que diz a nossa profissão sobre nós, afinal?

Sabem o que eu faço além da minha profissão? Faço perguntas, faço piadas, faço amigos, faço marmitas, faço (pouco) exercício, faço asneiras. Faço esforços. Faço posts. Vejo séries. Leio livros. Sonho com viagens. Sei lá. Não faço só o que faço no trabalho.

Concordam com isto? O que fazem além do vosso trabalho?