Setembro para destralhar

Muitas pessoas fazem resoluções em Setembro. É como se fosse ano novo. Eu não. Eu faço em Janeiro que é quando faz mais sentido para mim. Mas não tendo resoluções a fazer agora, tenho algo que inventei para este mês. Fazer arrumações. E destralhar.
Na semana que voltei de férias, em Agosto, meti-me a ler o livro “Destralhe a sua casa” da Paula Margarido. E fiquei com macaquinhos no sótão. Graças a todos os santinhos eu não tenho sótão. Mal dou conta de arrumar a casa toda quanto mais o sótão. Na verdade, se o tivesse, sinto que seria o sítio onde iria meter tudo o que não quero cá em casa, o que seria uma batota na hora de destralhar.
“É preciso desembaraçarmo-nos de tudo o que é excessivo, inútil e redundante nas nossas casas e por contágio nas nossas vidas. Só quando aprendermos a desapegarmo-nos, a “deixar ir” estamos a abrir espaço para que coisas novas entrem na nossa vida. Só assim podemos renovar energias, como quem abre janelas de casa para deixar ar novo entrar.”
(…)
“A operação de destralhar a sua casa é muito semelhante a fazer um detox. Trata-se de eliminar todos os excessos e todos os elementos portadores de toxicidades. Quando terminar, desembaraçando-se de tudo o que não utiliza ou não lhe serve, deve sentir-se-rejuvenescido.”
A verdade é que tenho demasiada coisa que não uso cá em casa. Muita coisa que nem sei que tenho. Demasiada coisa que está escondida de forma aleatória nas gavetas. Tenho um problema com gavetas. E estar na gaveta é uma maneira disfarçada de estar arrumado. Porque a gaveta fecha, não se vê, está bom. Quando queremos determinada coisa, de certeza que “deve estar praí numa gaveta”. (Só que claro que não vai estar.) É mais ou menos como o armário dos tupperwares. Para mim arrumar esse armário é espetarem-me facas nos pés, porque eu meto tudo lá dentro até caber e a porta fechar. Se fechar está mais que bom. Até levar com uma tampa na cabeça da próxima vez que abrir o armário. É um preço a pagar. E a prova que destralhar é mesmo necessário.
Enquanto lia o livro pensava nas áreas da minha casa que tinha que arrumar e era mais ou menos como analisar as partes da minha vida que tinha que limpar. Eram mesmo muitas. Achamos que está tudo bem mas há sempre aquele canto para onde despachamos as caixas dos objectos com garantia (não vão ser precisos, tipo…a coisa vai avariar depois da garantia acabar, é óbvio). Mais ou menos como na nossa cabeça, há sempre aquele canto que alberga pensamentos para depois, que na maior parte das vezes não interessam. Por exemplo alguém me diz porque é que eu insisto em guardar as agendas antigas? De 2013? A sério?
“Quando arruma a sua casa, não é só o espaço em volta que fica livre e ordenado, é a sua vida que está a ser posta em ordem. Está a arrumar os assuntos pendentes, a libertar-se de tudo o que já não faz parte de si, trabalhando o desapego emocional.”
Decidi que ia arrumar a casa. Não era arrumar tipo meter os chinelos no sítio. Era arrumações mesmo. Nunca este novo verbo “destralhar” fez tanto sentido, O meu namorado disse que eu estava louca quando me viu com sacos de papéis para o lixo. Sim, sacos de papéis. Para que tínhamos nós envelopes de cartas do banco vazios dentro de casa? E recibos do supermercado de mil nove e vinte?
Comecei pelas gavetas da sala quando estava desesperada à procura já não sei do quê. Claro que não sabia onde estava e tirei tudo para fora. Arrumei as três gavetas por categorias: Faturas importantes, fotografias e material informático (perdoem, mas a pessoa aqui vive com um nerd e há muitos cabos por aqui. Desconfio que há mesmo cabos que não servem para carregar nada que cá esteja em casa, mas nem digo nada.) Depois passei para as gavetas da entrada e consegui deixar uma vazia. Orgulho! Palmadas nas costas em mim própria!
Deitei sacos daqueles das lojas fora porque os guardava ali. Em algum momento da minha vida achei que podiam fazer falta. Passei, depois, para a arrumação das minhas malas que até à data eram arrumadas umas em cima das outras. (Brilhante estratégia para usar sempre a mesma). Agora decidi que o próximo passo é arrumar os armários da cozinha e em princípio devo descobrir lá algum apetrecho que nunca tenha visto antes. Por fim, conto arrumar o quarto de vestir. Sim, é quarto de vestir, que é a versão pobre de closet.
Acredito que somos o espaço em que vivemos. Criando um ambiente agradável, desimpedido e arrumado estaremos a criar as condições ideais para darmos o melhor de nós e sermos a melhor versão de nós próprios. O ambiente em que vivemos molda a nossa personalidade, desde pequenos, e influencia o nosso estado de espírito e as decisões que tomamos. Por isso, é tão importante amarmos as nossas casas: elas têm uma influência direta sobre nós.
O livro “Destralhe a sua casa” é um guia para nos ajudar a limpar, arrumar e organizar o espaço onde nos devemos sempre sentir mais que bem, a nossa casa. Está dividido precisamente nestas três partes importantes. Além disso inclui dicas de Feng Shui e explica-nos que cada parte da nossa casa significa uma parte da nossa vida, como as relações, as finanças ou a saúde. Ajuda-nos também a perceber como é importante o desapego material antes de trabalharmos o desapego emocional e como ambos podem estar ligados. No fundo é um manual para conseguirmos perceber as coisas que acumulamos sem sentido, como papéis do supermercado, revistas com modas feias, maquilhagem de há dez anos ou os cabides que vêm da senhora de passar a ferro. Eu assumo, um dia achei que os cabides iam dar imenso jeito e agora tenho duzentos!
Joana
Estou a precisar desse livro :p Mas como vou para a faculdade, já vou ficar sem muitas coisas!
Beijinhos
Joana
https://curlyhairandlipsticks.wordpress.com/